11/04/2022 às 15h26min - Atualizada em 11/04/2022 às 15h26min

Contexto histórico e político da luta dos surdos associado a língua brasileira de sinais

- Heliana Pereira Portilho Fuhr
Para aprender sobre Libras é preciso conhecer um pouco sobre a sua trajetória para que assim possa compreender sobre as lutas e as conquistas da Língua de Sinais. Aprender sobre a Libras é tão importante quanto aprender sobre o português ambas são uma língua, mais ainda existe certa resistência pelo fato do desconhecimento da língua de sinais. Quando se usa o verbo aprender pode-se confundir com a memorização.

Ou seja, aprender está ligada ao conhecimento que o indivíduo irá adquirir, noutras palavras possibilitará a uma capacidade de atuar consciente no seu próprio aprendizado com isso despertando o senso crítico em certas questões da sociedade. E nessa relação de saber/aprender sobre algo que segundo a autora Gesser (2012) “assiste a uma proliferação de possibilidades sobre o que o ato de aprender engloba no cenário de ensino de línguas”.

Para tanto, aprender sobre Libras é necessário conhecer sobre as lutas e as conquistas da Língua de Sinais. O surdo enfrentou grandes barreiras, antigamente usava uma língua clandestina, porque a sociedade da época não aceitava como língua verdadeira. Mas, a partir do momento em que a língua de sinais passou a ser aceita foi possível inseri-los dentro de um contexto social, dentro de uma comunidade possibilitando sua identidade.

Para entender como se deu todo esse contexto faz-se necessário conhecer esse processo que na antiguidade o surdo não era considerado como ser humano era excluído da sociedade e assim também era igualmente com os deficientes físico e intelectual. Existem vários registros que deixa bem claro o quanto os surdos eram desprezados um deles que se pode fazer referência que segundo as autoras Rodrigues e Valente (2011) “na Grécia, os surdos eram encarados como deficientes mentais e muitas vezes eram condenadas à morte”.

Segundo as autoras os romanos viam as crianças como seres imperfeitos e jogava-as no rio.

De acordo com Strobel (2009) em Roma não aceitavam os sujeitos surdos, porque achavam que eram castigados ou enfeitiçados, eram abandonados ou eliminados fisicamente, ou seja, excluía-os totalmente da sociedade. E diante desta arbitrariedade os surdos não podiam ser batizados, pois não podia proferir sua fé, Silva (2015).

No entanto, os nobres quando tinha filhos surdos contratavam professores para que pudessem alfabetiza-los e esse ensino na época já fazia alusão à língua de sinais, pois usavam alguns gestos, contudo o maior objetivo era a oralização do indivíduo. Então, surge o monge espanhol Pedro Ponce de Léon (1520-1584) considerado um dos pioneiros da história que usou o método de ensinar para educar os surdos, sendo estes filhos de nobres, Silva (2009).

Diante disso, o método de ensino de Ponce foi ganhando forças e novas ideias de tal maneira que se espalhou por outros países de que os surdos podiam ser alfabetizados trazendo uma esperança aos que não podia ouvir. E, diante dessa repercussão dos seus métodos usados para a educação dos surdos surge o padre francês Charles L’Epeé (1712-1789) que adere a essa educação e aperfeiçoa, sendo inquestionavelmente o primeiro a defender e admitir que os surdos podiam se comunicar sem ser preciso ser oralizado como antes assim faziam segundo Silva (2015).

Segundo o que consta na história o padre L’Epeé despertou o interesse por surdos quando teve que alfabetizar duas irmãs gêmeas com deficiência auditiva e a metodologia usada na época era o ensino por meio de gravuras. Porém, ao observa-las durante as suas aulas constatou que elas já haviam estabelecido uma linguagem entre si com muita influência, Reily (2004). E a autora ainda relata que L’Epeé resolveu ensinar uma linguagem pelos olhos mostrando objetos e em seguida escrevia os nomes correspondente numa lousa logo as meninas estavam lendo e escrevendo. Contudo, elas ficavam restritas ao significado físico da imagem não contemplava a gramatica nem sentido abstrato deixando a aprendizagem limitada.

E, diante desta descoberta L’Epeé começa a estudar a forma de comunicação que elas já haviam estabelecido, uma comunicação com tanta propriedade que aprende a língua e acrescenta outros sinais desenvolvendo assim a língua de sinais francesa que ficou conhecida como Sinais Metódicos.

E este novo método desenvolvido por L’Epeé foi levado para os Estados Unidos por Thomas Gallaudet com ajuda de um dos seus alunos que era surdos o francês Laurente Clerc. Posteriormente a iniciativa de levar a educação para os surdos deu tão certo que em 1817 foi fundada à primeira escola Norte Americana de Sinais. E consequentemente a escola alcançou ótimos resultados que logo houve a necessidade de uma formação superior para aqueles estudantes, então em 1964 foi fundada a primeira instituição superior para surdos do mundo por Edward filho de Gallaudet, em que o autor Silva (2015) retrata a história com propriedade em seu livro.

Contudo isso, mesmo a educação dos surdos dando ótimos resultados ainda sim existiam aqueles que defendiam a oralização e um dos defensores da época era Alexander Graham Bell inventor do telefone. Que ao tentar criar um acessório para ampliar a audição do surdo resultou na invenção do telefone.  Graham Bell defendeu o método oralista e também trabalhou com a educação de surdos com aparelhos auditivos, em seu discurso dizia que os surdos deveriam ser educados iguais aos ouvintes não acreditava na língua de sinais, Silva (2015). E não era só isso, defendia que os surdos não deveriam se unir, ou seja, que casassem entre si, evitando assim pessoas com a mesma deficiência.

Mesmo com métodos de sinais dando certo o método do oralismo ganha força e o ponto marcante foi o Congresso de Milão em 1880, que baniram no mundo todo qualquer método educacional com a língua de sinais. Os métodos oralistas ganharam apoio dos aparelhos eletrônicos, mas mesmo assim era difícil para os surdos conseguirem aproximar dos ouvintes na fala na leitura e na escrita. Eram vistos como pessoas impulsivas, ansiosas e desesperadas e violentas, porque as pessoas não compreendiam o surdo daquela época, não sabiam o quanto era frustrante aprender algo que não fazia o menor sentido que era a linguagem oral sem retorno da audição, SILVA (2015).
 
 
GONÇALVES, H.B; FESTA, P. S. V. Metodologia do professor no ensino de alunos surdos.  Disponível em:< http://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n6/ARTIGO-PRISCILA.pdf>. Acesso em: 20 de out.2019.
 
RODRIGUES, C. S; VALENTE, F. Aspectos Linguísticos da Libras. Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2011. 252 p.
 
REILY, L. Escola Inclusiva: linguagem e mediação. Campinas: Papirus, 2004.
 
SÁ, N. Surdos: qual escola? Manaus: Editora Valer e Educa, 2011, 302 p.
 
SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras (Companhia de Boldo), 2010.
 
SILVA, R. D. Língua brasileira de sinais: Libras. Bibliografia Universitária Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015, p. 3 - 8.
 
SILVA, A. M. Educação especial e inclusão escolar: história e fundamentos. 1° ed. Curitiba PR: Inter saberes, 2012, p. 94, 96.
 
STROBEL, K. L. As imagens do outro sobre a cultura surda. 3. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013.
 
STROBEL, K. L. Surdos: vestígios culturais não registrados na história. Florianópolis, 2008. Tese de Doutorado em Educação UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina.
 
NOGUEIRA, C. M. I; SCHMITT, B.D; CARNEIRO, M. I. N. Língua Brasileira de Sinais. Maringá PR: Unicesumar, 2018.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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