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11/04/2022 às 15h35min - Atualizada em 11/04/2022 às 15h35min

O combate as crenças limitantes sobre a língua brasileira de sinais

- Heliana Pereira Portilho Fuhr
Sabe-se que a história da educação do surdo começou primeiro pelo oralismo, frente a isso foram obrigados a aprender a oralidade, sendo assim, proibido de utilizar sinais e gestos para se comunicarem.

SILVA (2015) descreve algo peculiar sobre o padre francês L’Epeé que ficou fascinado pela forma das pessoas surdas se comunicarem e que mesmo em tempos tão remoto sem estudos específicos se desenvolviam igual modo “foi um dos primeiros ouvintes a admitir que, sim, os surdos não precisava, nem falar, nem ouvir para adquirirem conhecimentos”.

Frente a isso o autor ainda relata que “os surdos não resistiram em silencio a essas proibições” eles lutaram contra essa ideologia excludente. Então, a luta das pessoas com deficiência auditiva não foi fácil e ainda deixa muitas dúvidas sobre sua eficiência devido à falta de conhecimento. Diante disso, construiu crenças a respeito da Libras que se fazem necessárias desconstruir. O fato da pessoa não ouvir não a torna inferior ao ouvinte, ele só adquire o conhecimento de forma diferente, mas as habilidades cognitivas são tão desenvolvidas quanto da pessoa que ouve.

Dessa forma, faz necessário mostrar que alguma afirmação não condiz com a realidade das línguas de sinais. Sendo assim, o mito que essa forma de comunicar dos surdos não seria capaz de expressar conceitos abstratos, essa concepção equivocada nasce da ideia de comparar com gestos ou mímica. Segundo as autoras Rodrigues e Valente (2011) “os sinais das línguas visuais apresentam a mesma possibilidade de simbolismo e abstração que as palavras das línguas orais”.

Então, o surdo é sujeito com perca auditivo, mas enfim, o que é Libras? A Libras é Língua Brasileira de Sinais, uma forma de expressão e comunicação dos surdos, sendo este visto como língua materna do mesmo. De acordo com Fernandes (2011):

“A Libras é a sigla utilizada para designar a língua brasileira de sinais, já que cada país tem sua própria língua, que expressa os elementos culturais daquela comunidade de surdos. É utilizado pela comunidade surda, pois muitas vezes os surdos que vivem em localidades distintas e em zonas rurais acabam por desconhecê-las e, assim, acabam por desenvolver um sistema gestual próprio de comunicação, restrito as situações e as vivencias cotidianas. Há também, alguns surdos que vivem nas grandes cidades que desconhecem a língua de sinais por inúmeros fatores ou não aceitação pela família, a falta de contato com outros surdos que utilizam a opção tecnológica da escola em que foi educado entre outros aspectos. ” (FERNANDES, 2011, p. 82).
 
Embora, Libras seja a língua materna, porém não é universal. É comum pensar que todos os surdos falam do mesmo jeito. Segundo Gesser (2009), uma coisa é pensar que as línguas de sinais são iguais em toda sociedade sugerindo que todo o surdo tem uma língua fácil de copiar “a língua dos surdos não pode ser considerada universal, dado que não funciona como um decalque ou rotulo que possa ser colado e utilizado”. Pode-se então, fazer uma analogia com qualquer língua falada no mundo, imagine todas as línguas existentes nos cinco continentes, impossível essa universalização.

Como assim? Pelo fato que a diferença é o membro que fala é as mãos em vez do som que sai da boca e, o que ouve são os olhos em vez dos sons que o ouvido recebe. Nesse sentido fica claro resumir em apenas uma frase “mãos que falam e olhos que ouvem” (grifo nosso).

Então, até mesmo dentro de um mesmo país existem sinais diferentes devido ao regionalismo e a cultura de cada um. Assim como no português existem o regionalismo, Libras também sofrem variações de acordo com cada cultural, alguns sinais podem ser diferentes em determinada regiões.

A Libras possui estruturas gramaticais próprias, além disso, é composta por níveis linguístico, fonológico, morfológico, semântico e sintático. Enfatizando, o que a diferencia a língua de sinais das outras línguas existentes no mundo é a percepção visual e espacial, ou seja, para que ela seja compreendida dependerá da habilidade das mãos e do entendimento visual na execução dos movimentos preciso. Nesse mesmo sentido a autora afirma:

A Libras é uma língua de modalidade visual espacial que diferentemente da língua orais auditivas, utilizam-se da visão para sua apropriação e de elementos corporais e faciais e organizados em movimentos do espaço para construir unidades de sentido as palavras ou, como se referem os surdos, os sinais. Os sinais podem representar qualquer dado da realidade social, não se reduzindo a um simples sistema de gestos naturais, ou mimicas como pensa a maioria das pessoas, aliás, esse é o principal mito em relação à língua de sinais, por utilizar as mãos e o corpo na comunicação, costuma-se compara-la a linguagem gestual, contextual e restrita a referentes concretos, palpáveis, transparente que tem seu significado facilmente por quem os observa”. (FERNANDES, 2011, p. 82)
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Por possui gramatica própria e estruturas nos mesmos níveis das línguas orais, a saber, fonológico, morfológico, sintático e semântico a língua de sinais não pode ser confundida com mímica.

A língua de sinais não é artificial é natural e ela evolui sofre algumas mudanças dependendo do grupo cultural dos surdos. Segundo Gesser (2009) trata com tanta proporção em seu livro que os ouvintes entendam que a língua de sinais tem toda característica linguística de qualquer língua humana por que é humana “entenda que o canal comunicativo diferente (visual-gestual) que o surdo usa para se comunicar não anula a existência de uma língua tão natural, complexa e genuína”.

Pensa-se que o alfabeto manual utilizado pelos surdos é a língua, esclarecendo não é uma língua. É apenas um código de representação das letras alfabéticas, entretanto é um recurso usado por eles para soletrar manualmente as palavras (datilologia), geralmente usam o alfabeto manual para soletrar nomes de pessoas, lugares, comidas e entre outras que ainda não se tem o sinal segundo a linguística Audrei Gesser (2009).  

Para os surdos que são alfabetizados em Libras cada palavra é representada por um sinal (ícones/gestos). Imaginem como seria comunicar com sinais soletrando manualmente seria exaustivo, e se acreditassem que o alfabeto manual fosse à língua de sinais estariam condenando-os ser limitada.

Em decorrência da falta de esclarecimento há certo equivoco que a língua de sinais é apenas uma forma de comunicação, não dando devido valor a ela de status de língua por considera-la apenas uma opção, pois, o surdo não conseguiu desenvolver a língua oral, Dizeu e Caporali (2005). A Língua de Sinais não é apenas um recurso para que o surdo possa se comunicar é uma língua visível que desvia a concepção da surdez como deficiência para uma concepção da surdez como diferença linguística e cultural, como explica Gesser (2009).

Outra coisa, uma forma errônea quando não se designa o termo correto de se referir aos indivíduos surdos, quando se estar diante de assuntos que envolvem pessoas com deficiência, e que provavelmente sofre algum tipo de preconceito. Segundo Gesser (2009) “os preconceitos podem estar disfarçados até mesmo nos discursos que dizem assumir a diferença e a diversidade”. Então, quando usamos o termo errado mesmo sem intenção acaba perpetuando conceitos ultrapassados. É comum pessoas usarem o termo aquele surdo-mudo, quando se refere ao surdo o termo mudo não corresponde, pois ele não é mudo, não tem nenhum comprometimento com suas cordas vocais não fala porque não consegue ouvir não possui o feedback auditivo.

Por mais que pareça estranha a palavra surdo é a mais adequada, pois permite melhor a compreensão de surdez e aproxima a sua condição orgânica e social, além disso é a denominação escolhida pelos surdos. 

Eles não desejam ser vistos como deficientes, como coitadinhos, mas como pessoas igualmente capazes, o que os diferencia dos ouvintes é por utilizar recursos de natureza Visio motora.

Nessa perspectiva e olhando por esse novo viés cultural, a surdez não é uma deficiência então, a autora Gesser afirma que (2009) “a surdez como deficiência pertence a uma narrativa assimétrica de poder e saber; uma invenção/produção do grupo hegemônico que, em termos sociais, históricos e políticos, nada tem a ver com forma como o grupo se vê ou representa”.

O surdo pode aprender a falar? Alguns sim, porém é um processo lento principalmente para aqueles com perda auditiva severa. Hoje logo que a criança nasce já se faz o teste da orelhinha e se diagnosticada os pais irão procurar o melhor tratamento aos casos que os aparelhos ou cirurgia resolvem. Mas, crianças com perdas profundas mesmo com acompanhamento de fonoaudiologia e exercícios de voz e de articulação treinos exaustivos e árduos em sua maioria não desenvolvem a fala com fluência.

A leitura labial não é uma capacidade inerente ao surdo, essa crença é muito perpetuada entre os professores que tem alunos surdos e regem suas aulas normalmente, imagine como é difícil ficar sentado e não tirar os olhos do professor que está falando quanto mais uma criança surda. Enquanto que a Língua de sinais é inerente ao ser humano, essa comunicação já existia entre os humanoides pré-históricos.

A língua de sinais não é inata, ou seja, do mesmo jeito que os ouvintes precisam de interação com meio que vive para aprender a falar assim deveria acontecer com a criança surda para que pudesse aprender sua primeira língua, infelizmente aprendem a primeira língua tardiamente. A língua de sinais durante muito tempo foi considerada ágrafa, mas a americana Valerie Sutton coreografa criou escrita de sinais que mostrou interesse em pesquisadores da Universidade de Copenhagen que deram origem a escrita dos sinais por meio do sistema de Sign Writting, como se refere à autora Dallan (2009) em seu estudo.
 
 
FERNANDES, S; MOREIRA, L.C. Políticas de educação bilíngue para surdos: o contexto brasileiro. Educar em Revista, Curitiba PR, v.30, n.2, 2014. Disponível em:. Acesso em:20 de abr.2019.
 
GARCIA, E. C. O que todo pedagogo precisa saber sobre Libras:        os principais aspectos e a importância da língua brasileira de sinais. ed. 02 . Rio de Janeiro: Wak Editora, 2015.
 
GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
 
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. ed. 5. São Paulo: Atlas, 2010, p. 30.
 
GONÇALVES, H.B; FESTA, P. S. V. Metodologia do professor no ensino de alunos surdos.  Disponível em:< http://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n6/ARTIGO-PRISCILA.pdf>. Acesso em: 20 de out.2019.
 
RODRIGUES, C. S; VALENTE, F. Aspectos Linguísticos da Libras. Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2011. 252 p.
 
REILY, L. Escola Inclusiva: linguagem e mediação. Campinas: Papirus, 2004.
 
SÁ, N. Surdos: qual escola? Manaus: Editora Valer e Educa, 2011, 302 p.
 
SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras (Companhia de Boldo), 2010.
 
SILVA, R. D. Língua brasileira de sinais: Libras. Bibliografia Universitária Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015, p. 3 - 8.
 
SILVA, A. M. Educação especial e inclusão escolar: história e fundamentos. 1° ed. Curitiba PR: Inter saberes, 2012, p. 94, 96.
 
STROBEL, K. L. As imagens do outro sobre a cultura surda. 3. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013.
 
STROBEL, K. L. Surdos: vestígios culturais não registrados na história. Florianópolis, 2008. Tese de Doutorado em Educação UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina.
 
NOGUEIRA, C. M. I; SCHMITT, B.D; CARNEIRO, M. I. N. Língua Brasileira de Sinais. Maringá PR: Unicesumar, 2018.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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