21/07/2024 às 15h23min - Atualizada em 21/07/2024 às 15h23min

Após pressão, Biden anuncia que não irá se candidatar à reeleição nos EUA

Presidente estava sendo pressionado a abandonar corrida eleitoral desde o fim de junho, quando teve um mau desempenho no primeiro debate presidencial. Idade avançada e aptidão de Biden levantaram preocupações

Thiago de Castro - Correio do Tocantins

Após pressão de democratas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou neste domingo (21) que não irá concorrer à reeleição, em disputa contra o ex-presidente Donald Trump.

O que aconteceu

Anúncio da desistência foi feito em carta publicada nas redes sociais. "Por enquanto, quero expressar minha mais profunda gratidão a todos aqueles que trabalharam tão fortemente para me ver reeleito", afirma trecho do documento. Presidente afirmou que vai fazer pronunciamento à nação ainda nesta semana. No pronunciamento, segundo ele, mais detalhes sobre a decisão serão explicados.

 

Nomeamos a primeira mulher afro-americana para a Suprema Corte. E aprovamos a legislação climática mais significativa da história do mundo. Os Estados Unidos nunca estiveram tão bem posicionados para liderar como estamos hoje.

Sei que nada disso poderia ter sido feito sem vocês, o povo americano. Juntos, superamos uma pandemia que só existia uma vez no século e a pior crise econômica desde a Grande Depressão. Protegemos e preservamos nossa democracia. E revitalizamos e fortalecemos nossas alianças em todo o mundo.

Foi a maior honra da minha vida servir como seu Presidente. E, embora tenha sido minha intenção buscar a reeleição, acredito que seja do interesse do meu partido e do país que eu me afaste e me concentre exclusivamente no cumprimento de minhas obrigações como presidente pelo restante do meu mandato.

Falarei com a Nação ao longo desta semana com mais detalhes sobre minha decisão.

Por enquanto, gostaria de expressar minha profunda gratidão a todos aqueles que trabalharam arduamente para que eu fosse reeleito. Quero agradecer à vice-presidente Kamala Harris por ser uma parceira extraordinária em todo esse trabalho. E permitam-me expressar minha sincera gratidão ao povo americano pela fé e confiança que depositaram em mim.

Acredito hoje no que sempre acreditei: que não há nada que os Estados Unidos não possam fazer - quando fazemos isso juntos. Só precisamos nos lembrar de que somos os Estados Unidos da América.

Pressão para desistência aumentou ao longo da semana

Desempenho de Biden em debate da CNN acendeu um alerta no Partido Democrata. Com a voz rouca, uma gagueira persistente e frases confusas, o presidente deixou uma imagem oposta à mostrada pelo rival, que adotou um tom claro e enérgico no evento realizado em junho. Desde então, vários democratas têm demonstrado preocupação e sugerido que Biden abandone a disputa.

Pedido para desistência também veio de veículos tradicionais. Ojornal The New York Times pediu, por meio de editorial, para que o atual chefe da Casa Branca desistisse da campanha pela reeleição. Até mesmo o ator e produtor George Clooney, um dos responsáveis por arrecadar fundos para a campanha, engrossou o coro daqueles que pediam para Biden desistir da corrida.

Gafes cometidas por Biden aumentaram a pressão. Em agendas no mesmo dia, ele confundiu o nome da vice-presidente democrata Kamala Harris com o rival Donald Trump e chamou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky de Vladimir Putin.

Liderança democrata conversou com o presidente dias antes do anúncio, apurou a CNN. A ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, levou a Biden pesquisas que mostravam que ele não derrotaria Donald Trump e poderia acabar destruindo a chance democrata nas eleições da Câmara. O ex-presidente Barack Obama também evitou comentários públicos, mas o ceticismo dele sobre uma vitória de Biden não era um segredo nos bastidores, diz a CNN.

Ataque a tiros contra Trump não influenciou intenções de voto apesar de teorias da conspiração que tentaram culpar Biden. O republicano manteve uma pequena vantagem sobre Biden, de 43% contra 41%, segundo a pesquisa Reuters/Ipsos feita dois dias após o atentado. Como a margem de erro é de três pontos percentuais, eles estão tecnicamente empatados.
 

Mudança de postura de Biden

Nos dias que seguiram o debate, o presidente Biden repetiu várias vezes que não desistiria de candidatura. Ele chegou a ser questionado por um apresentador de TV se renunciaria caso fosse convencido de que não é capaz de derrotar o republicano. Como resposta, afirmou:
 

"Depende. Se o próprio Senhor Todo-Poderoso vier e me disser isso, 'Joe, saia da corrida', eu posso fazer isso. Mas ele não vai fazer isso."


Biden fez uma carta confrontando deputados democratas. No documento de duas páginas, Biden pediu que os colegas deixassem de pressioná-lo por uma desistência.
 

"É hora de acabar com isso. Temos 42 dias para a Convenção Democrata e 119 dias para as eleições gerais. Qualquer enfraquecimento da determinação ou falta de clareza sobre a tarefa que temos pela frente só ajuda Trump e nos prejudica".


Depois, ele declarou em entrevista à BET que poderia reavaliar caso fosse diagnosticado com algum problema médico. Desde o fraco desempenho no debate, Biden e sua campanha repetem que ele não tem nenhuma condição grave de saúde e que ele está em boas condições para cumprir mais quatro anos de mandato.

Na quarta (17), Biden testou positivo para covid-19. Ele fez o teste após sentir um mal-estar, anunciou a Casa Branca. O médico que o atendeu disse que Biden apresentou sintomas leves, 
como coriza, tosse e mal-estar.

Partido agora vive uma 'sinuca de bico', segundo especialista. Por um lado, tirar Biden da disputa enfraquece ainda mais sua imagem, reforçando a tese dos republicanos de que o presidente não é capaz de governar os EUA por mais quatro anos.

Por outro, faltando menos de dois meses para a convenção democrata e pouco mais de quatro meses para a eleição, "qualquer candidato agora vai sair em grande desvantagem em relação a Trump", disse Adriano Cerqueira, professor de Relações Internacionais do Ibmec-BH.

 

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