Em movimento estratégico para assegurar sobrevivência institucional e ampliar sua presença no cenário político, os partidos Solidariedade e PRD formalizaram, nesta quarta-feira (25), a criação de uma federação partidária. O anúncio ocorreu durante evento realizado na Câmara dos Deputados, em Brasília, com a participação de lideranças nacionais das duas legendas.
A federação, que ainda precisa ser homologada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reunirá 10 deputados federais e 138 prefeitos eleitos nas eleições municipais de 2024. Pelo estatuto, a aliança terá validade mínima de quatro anos, exigindo atuação conjunta em decisões sobre candidaturas, coligações, formação de bancadas e distribuição de recursos.
O comando da federação ficará sob responsabilidade de Ovasco Resende, presidente nacional do PRD, enquanto o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP) assumirá a vice-presidência. A articulação é interpretada como uma resposta direta às crescentes restrições impostas pela cláusula de desempenho, mecanismo que visa reduzir a fragmentação partidária no país.
“Nós estamos trabalhando para construir uma candidatura ao centro. A federação nasce com o compromisso de combater os extremos, rejeitando tanto a radicalização da direita quanto da esquerda”, afirmou Paulinho da Força, ao oficializar a união.
O ex-senador José Reguffe (Solidariedade-DF) classificou a federação como uma alternativa real ao atual cenário de polarização.
“Representamos um centro democrático, responsável, que não se rende às práticas fisiológicas que infelizmente contaminam parte da política brasileira”, declarou.
Apesar do alinhamento institucional, a federação reúne correntes com diferentes posicionamentos. A deputada federal Marília Arraes (Solidariedade-PE) reconheceu as divergências internas, especialmente no campo das relações com o governo federal.
“Defendo o presidente Lula, defendo que fortaleçamos o governo, e há lideranças dentro da federação que fazem críticas a essa mesma gestão”, ponderou.
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), também prestigiou o evento e sinalizou apoio à nova composição partidária.
“A presidência da Câmara está de portas abertas para a federação. Ela traz ao debate político temas e reflexões que certamente estarão nas pautas eleitorais do ano que vem”, afirmou.
A criação da federação representa, sobretudo, uma estratégia de sobrevivência diante da escalada das exigências da cláusula de desempenho, que será aplicada de forma mais rigorosa a partir das eleições de 2026.
Pelas regras vigentes, só terão acesso ao fundo partidário e à propaganda eleitoral gratuita as legendas que alcançarem, no mínimo, 2,5% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados, distribuídos em pelo menos um terço dos estados — com um mínimo de 1,5% dos votos em cada unidade federativa — ou que elejam, no mínimo, 13 deputados federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação.
Tanto Solidariedade quanto PRD já são fruto de movimentos anteriores de fusões partidárias. O PRD nasceu da incorporação do PTB com o Patriota. O Solidariedade, por sua vez, absorveu o Pros.
Ao oficializar a federação, as legendas não apenas garantem sua sobrevivência jurídica e financeira, mas também se reposicionam no mapa político nacional, apresentando-se como uma alternativa ao eleitorado que rejeita os extremos e busca uma representação mais equilibrada e pragmática.
