O Brasil teve o mês de julho mais quente em 62 anos. É o que indicam dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que a nossa reportagem acessou. O resultado é o maior desde 1961, quando começaram as medições nas estações do órgão, e reflete uma situação que ocorreu em todo o mundo: um recorde de calor. Para o planeta, o mês foi o mais quente do registro histórico.
Os números mostram que a média de temperatura registrada em todas as estações do país ficou em 23 °C. Isso representa 1 °C acima da série histórica, que é de 22 °C. Esse é um novo recorde, mas que acontece justamente um ano após o anterior. O último, em 2022, foi um acréscimo de 0,8 °C. Antes disso, havia sido em 2015, com 0,7 °C.
As áreas que registraram maior aumento foram o sul da Amazônia, o Centro-Oeste e o Sul. Em ao menos seis capitais, as médias de temperaturas máximas e mínimas do mês ficaram acima do esperado. Em algumas, muito acima: Porto Alegre, por exemplo, registrou uma média de temperaturas mínimas quase 2 °C acima do histórico. A cidade teve um dia de inverno marcando 30 °C nos termômetros.
“Seria um processo natural, mas temos notado um aumento progressivo das temperaturas no inverno nos últimos 15 anos. A substituição de áreas verdes por edificações, por exemplo, contribui para o aquecimento”, explica Danielle Barros, meteorologista do Inmet e chefe do serviço de pesquisa aplicada.
Segundo Barros, o recorde de calor registrado em julho de 2015 ocorreu em um ano com um forte El Niño — o fenômeno de aquecimento da água superficial no Oceano Pacífico. Ele é responsável por gerar grandes alterações no clima, por exemplo, nas temperaturas e no regime de chuvas. Neste ano, o retorno do El Niño poderia explicar o novo recorde de calor. Para o planeta, piora um cenário já alterado pelo processo de aquecimento global. Na média, o mundo já está mais de 1 °C mais quente do que no período pré-Revolução Industrial.
Reportagem da Agência Pública mostrou como o El Niño de 2015/2016 afetou a produção de castanhas-do-pará no estado do Amapá. Famílias de catadores sofreram com a diminuição da produção e ainda precisaram enfrentar roubos motivados pela disparada no preço do alimento, que ficou mais escasso.
De acordo com Barros, em 2022, a causa para o recorde de temperaturas em julho teria relação com o inverno seco. Na época, sistemas de alta pressão inibiram a formação de nuvens e aumentaram a incidência de raios solares.
Mamedes Luiz, chefe de previsão no Inmet, diz que a previsão para os próximos três meses também aponta para um aumento nas temperaturas médias entre 1°C e 1,5 ºC, principalmente no Norte e no Centro-Oeste.
A cidade de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, registrou um dos maiores aumentos na temperatura em julho. A média de temperatura máxima foi de 29,2 °C, ou 1,7 ºC acima da média – e os termômetros passaram de 32 °C no fim de julho. Já a mínima ficou em 16,9 °C, um aumento de 1,6 °C em relação ao esperado para o mês.
Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, os gaúchos também viveram um julho menos frio que o de costume. A média da temperatura mínima para o mês foi quase 2º C mais alta que o histórico. As máximas também ficaram mais de um 1º C acima da média. No final de julho, o sábado, dia 22, marcou o recorde: quase 30º C. Além de menos frio, o mês trouxe mais chuvas em Porto Alegre que a média.
Embora a região Nordeste tenha sido menos castigada com o aumento da temperatura em julho, a cidade de Salvador, na Bahia, está dentre as que tiveram médias acima do histórico. A máxima superou a série histórica em 1º C, e a mínima, em 1,3 °C. Os soteropolitanos também receberam 46% menos chuvas, cerca de 90 mm a menos do que a média de 1991 a 2020.
Outra capital onde choveu menos que a média foi Belo Horizonte, em Minas Gerais. O mês de julho registrou uma média de chuvas quase um terço menor que a histórica. E enquanto as chuvas ficaram abaixo do esperado em BH, o frio também. A média das temperaturas, tanto as máximas quanto as mínimas, ficaram acima do histórico. Ou seja, os termômetros registraram valores mais altos do que se estima para julho. A cidade chegou a marcar mais de 30ºC no dia 11 de julho.
Os paulistanos sofreram menos com calor em julho, mas a cidade de São Paulo passou por uma estiagem: foram 37,4 mm de chuva abaixo do normal climatológico para o período, ou 77% de redução. Nos termômetros, a temperatura mais alta registrada foi de 28,6 ºC. A média máxima foi 0,8 °C acima do esperado, e a mínima, 0,9 °C.
Aracaju, capital de Sergipe, também teve um julho mais quente que o esperado, embora com números bem menos intensos que as demais capitais. Por lá, a média das temperaturas mínimas ficou meio grau acima do registro histórico. Um exemplo foi o dia 8 de julho, quando a mínima bateu 24,7 °C. As chuvas também ficaram acima da média.