03/08/2023 às 15h21min - Atualizada em 03/08/2023 às 15h21min

Brasil teve julho mais quente dos últimos 62 anos

Dados do Instituto de Meteorologia apontam novo recorde de temperaturas no meio do inverno

- Correio do Tocantins
Fonte: Agência Pública

O Brasil teve o mês de julho mais quente em 62 anos. É o que indicam dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que a nossa reportagem acessou. O resultado é o maior desde 1961, quando começaram as medições nas estações do órgão, e reflete uma situação que ocorreu em todo o mundo: um recorde de calor. Para o planeta, o mês foi o mais quente do registro histórico.

Os números mostram que a média de temperatura registrada em todas as estações do país ficou em 23 °C. Isso representa 1 °C acima da série histórica, que é de 22 °C. Esse é um novo recorde, mas que acontece justamente um ano após o anterior. O último, em 2022, foi um acréscimo de 0,8 °C. Antes disso, havia sido em 2015, com 0,7 °C.

As áreas que registraram maior aumento foram o sul da Amazônia, o Centro-Oeste e o Sul. Em ao menos seis capitais, as médias de temperaturas máximas e mínimas do mês ficaram acima do esperado. Em algumas, muito acima: Porto Alegre, por exemplo, registrou uma média de temperaturas mínimas quase 2 °C acima do histórico. A cidade teve um dia de inverno marcando 30 °C nos termômetros.

“Seria um processo natural, mas temos notado um aumento progressivo das temperaturas no inverno nos últimos 15 anos. A substituição de áreas verdes por edificações, por exemplo, contribui para o aquecimento”, explica Danielle Barros, meteorologista do Inmet e chefe do serviço de pesquisa aplicada.

Segundo Barros, o recorde de calor registrado em julho de 2015 ocorreu em um ano com um forte El Niño — o fenômeno de aquecimento da água superficial no Oceano Pacífico. Ele é responsável por gerar grandes alterações no clima, por exemplo, nas temperaturas e no regime de chuvas. Neste ano, o retorno do El Niño poderia explicar o novo recorde de calor. Para o planeta, piora um cenário já alterado pelo processo de aquecimento global. Na média, o mundo já está mais de 1 °C mais quente do que no período pré-Revolução Industrial.

Reportagem da Agência Pública mostrou como o El Niño de 2015/2016 afetou a produção de castanhas-do-pará no estado do Amapá. Famílias de catadores sofreram com a diminuição da produção e ainda precisaram enfrentar roubos motivados pela disparada no preço do alimento, que ficou mais escasso.

De acordo com Barros, em 2022, a causa para o recorde de temperaturas em julho teria relação com o inverno seco. Na época, sistemas de alta pressão inibiram a formação de nuvens e aumentaram a incidência de raios solares.

Mamedes Luiz, chefe de previsão no Inmet, diz que a previsão para os próximos três meses também aponta para um aumento nas temperaturas médias entre 1°C e 1,5 ºC, principalmente no Norte e no Centro-Oeste.

Seis capitais brasileiras registraram temperaturas acima da média em julho 

A cidade de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, registrou um dos maiores aumentos na temperatura em julho. A média de temperatura máxima foi de 29,2 °C, ou 1,7 ºC acima da média – e os termômetros passaram de 32 °C no fim de julho. Já a mínima ficou em 16,9 °C, um aumento de 1,6 °C em relação ao esperado para o mês.

Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, os gaúchos também viveram um julho menos frio que o de costume. A média da temperatura mínima para o mês foi quase 2º C mais alta que o histórico. As máximas também ficaram mais de um 1º C acima da média. No final de julho, o sábado, dia 22, marcou o recorde: quase 30º C. Além de menos frio, o mês trouxe mais chuvas em Porto Alegre que a média.

Infográfico mostra variação média das temperaturas em relação ao histórico para julho de 2023, indicando recorde de calor em julho

Infográfico mostra variação média das temperaturas em relação ao histórico para julho de 2023, indicando recorde de calor em julho

Embora a região Nordeste tenha sido menos castigada com o aumento da temperatura em julho, a cidade de Salvador, na Bahia, está dentre as que tiveram médias acima do histórico. A máxima superou a série histórica em 1º C, e a mínima, em 1,3 °C. Os soteropolitanos também receberam 46% menos chuvas, cerca de 90 mm a menos do que a média de 1991 a 2020.

Outra capital onde choveu menos que a média foi Belo Horizonte, em Minas Gerais. O mês de julho registrou uma média de chuvas quase um terço menor que a histórica. E enquanto as chuvas ficaram abaixo do esperado em BH, o frio também. A média das temperaturas, tanto as máximas quanto as mínimas, ficaram acima do histórico. Ou seja, os termômetros registraram valores mais altos do que se estima para julho. A cidade chegou a marcar mais de 30ºC no dia 11 de julho.

Os paulistanos sofreram menos com calor em julho, mas a cidade de São Paulo passou por uma estiagem: foram 37,4 mm de chuva abaixo do normal climatológico para o período, ou 77% de redução. Nos termômetros, a temperatura mais alta registrada foi de 28,6 ºC. A média máxima foi 0,8 °C acima do esperado, e a mínima, 0,9 °C.

Aracaju, capital de Sergipe, também teve um julho mais quente que o esperado, embora com números bem menos intensos que as demais capitais. Por lá, a média das temperaturas mínimas ficou meio grau acima do registro histórico. Um exemplo foi o dia 8 de julho, quando a mínima bateu 24,7 °C. As chuvas também ficaram acima da média.

 


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