A autodeclarada pastora Renálida Lima, 39, que acumula mais de três milhões de seguidores no Instagram, publica conteúdos não somente ligados à religião, mas também ostentando uma vida de luxo. Nos últimos dias, ela começou a receber críticas por seu conteúdo teológico e pela vida de viagens, roupas de grife, joias e procedimentos estéticos que divulga em suas redes.
Por que 'pastora do Pix'?
Renálida pede Pix aos seguidores. A pastora faz quase que diariamente lives de oração e exposição bíblica —e é exatamente por isso que recebe a maior parte das críticas. Durante essas transmissões, começou a desafiar seus seguidores a fazerem um Pix, dando como chave o CPF do ex-marido e também o seu próprio. Agora, o Pix é no CNPJ da igreja, a Comunidade Profética Atos 2.
Em uma de suas lives, a pastora propôs um desafio aos seus seguidores.
"Deus tá dizendo para 15.500 pessoas. Aleluia! Você está aí, vai fazer esse voto comigo, esse propósito comigo".
Se antecipando a possíveis pessoas contrárias a seu pedido, continuou:
"Ah, eu não creio, eu não preciso disso! Sai da live, não estou botando uma arma na sua cabeça, nem te obrigando a nada".
Em seguida, ela, que estava vestindo uma jaqueta da Gucci avaliada em mais de R$ 11 mil, explica sua proposta.
Em outro vídeo, a pastora faz uma nova sugestão:
"ninguém é pobre demais que não pode fazer um voto de R$ 7".
Ostentação ganhou repercussão nas redes sociais
Em pouco tempo, incontáveis cortes nas redes sociais começaram a viralizar, com críticas, piadas, imitações e alguns apelidos também, como, por exemplo, "Gretchen gospel", "profeta sensual", "Jezabel gospel", "pastora da ostentação" e a alcunha mais usada: "pastora do Pix".
Ingresso para participar de cultos
Além disso, algumas pessoas começaram a compartilhar prints mostrando que era cobrado um ingresso para participar dos cultos em que a pastora pregava.
Alvo de críticas durante programa de TV
apresentador Bruno Pereira, da TV Arapuan, afiliada da Band na Paraíba, fez críticas ao vivo durante seu programa, divulgando prints em que havia a cobrança de R$ 50 para as pessoas participarem do culto.
Eu não vejo a presença de Deus na pastora Renálida; quando eu olho para a pastora Renálida, só vejo ostentação [...] o verdadeiro profeta de Deus não cobra, disse o apresentador na época.
Igreja interditada na pandemia
Igreja fechada por causa de aglomeração. Durante a pandemia, quando as atividades presenciais passaram a ser liberadas com restrições e todos os estabelecimentos tinham um rígido protocolo sanitário a seguir, a igreja de Renálida foi interditada pela vigilância sanitária da prefeitura de Cabedelo, região metropolitana de João Pessoa, por aglomeração e descumprimento das medidas impostas na época. Após a proibição, a pastora convocou os fiéis para um culto na praia, que aconteceu também com muitas pessoas e foi transmitido ao vivo em seu Instagram.
Processo envolvendo pastor
Crítica por causa de pedido de Pix foi parar na Justiça. O pastor Anderson Silva, 43, que lidera em Brasília (DF) o movimento "Machonaria", foi processado por Renálida após tê-la chamado de "estelionatária da fé" em uma publicação nas redes sociais.
Durante audiência judicial, Anderson disse que "a pastora Renálida representa uma geração de falsos sacerdotes".
"No ambiente virtual, que por causa da baixa educação, principalmente do meu Nordeste, sou nordestino, usurpam da boa-fé de pessoas, prometendo aquilo que Deus não prometeu, em benefício próprio", declarou, afirmando que recebeu retaliações de seguidores de Renálida. Segundo ele, "posteriormente muitos enxergavam a fraude que esse tipo de 'fé' causa nas pessoas"
A defesa da "pastora do pix" pede indenização de R$ 15 mil, segundo o pastor. Ele diz que o objetivo de um processo assim é mostrar para o público, supostamente, o lado de quem Deus estaria: "geralmente, um processo ganho por um falso pastor produz a narrativa que Deus está com ele e seus feitos são legítimos", considera. Milton Paulo, teólogo e pastor da Igreja Vineyard em Mogi das Cruzes (SP), classifica a briga judicial como "um show de horrores".
Segundo ele, a briga que parece ter sido "extraída de alguma edição do reality 'A Fazenda', para ficarmos só no 'arraial Gospel'". Na perspectiva do teólogo, toda essa disputa e as polêmicas em volta do nome de Renálida geram uma dúvida: "Onde está o Evangelho?".
Divórcio e polêmicas
Ela era casada com o empresário Renan Carvalho. O casamento dos dois terminou em janeiro de 2023, após boatos terem ganhado força nas redes sociais sobre um suposto caso extraconjugal que Renálida teria com o baterista de sua banda, Wesley Santiago. Renan, que na época desmentiu os boatos, divulgou o término do casamento em uma publicação do Instagram. Os dois ficaram juntos por 13 anos e são pais de uma menina de nove anos. Renálida, que tem outro filho, de uma relação anterior ao casamento com Renan, se casou com Wesley Santiago, o mesmo baterista apontado meses antes como suposto pivô da separação dela e Renan.
Vida antes da 'fama'
Agora conhecida nas redes sociais, Renálida nem sempre foi famosa e rica. Quando ela e Renan começaram a se relacionar, a pastora exercia funções com bem menos holofote e ostentação. O ex-marido da pregadora conta que ela trabalhava como "cabeleireira e numa creche como monitora".
Antes de se autodeclarar pastora, eles participaram juntos da Igreja Missionária Unidos do Brasil, lugar onde era tratada como missionária. Hoje, em suas lives, Renálida costuma sempre iniciar com a pergunta: "Deixa eu ser boca de Deus na sua vida?".
Para o teólogo Milton Paulo, é perigosa a ideia de Deus ter um compromisso de retribuir os sacrifícios de seus fiéis em forma de presentes, especialmente quando se trata de algo luxuoso.
"Deus não tem nenhum tipo de compromisso deste tipo. Ao postar 'presente recebido' é uma mensagem: 'Tá vendo? Deus é comigo. Se eu ganhei, você também poderá ganhar'. "Nessa lógica discursiva, segundo o teólogo, Deus está a serviço dos desejos da pastora e isso pode gerar um trauma aos fiéis quando a benção não for também recebida por eles.