Um episódio insólito, com tintas de tragicomédia política, agitou a tarde de sexta-feira (4) e incendiou as redes sociais no Tocantins: um carro oficial da Câmara Municipal de Monte do Carmo foi flagrado deixando um motel em Palmas.
O vídeo, gravado por um motorista que também estava no local, mostra um Gol branco com os emblemas da Casa de Leis tocantinense deixando o estacionamento de um motel na quadra 812 Sul. Como seria de se prever, o episódio virou piada nacional e enredo pronto para sátiras, memes e indignações públicas.
O presidente da Câmara, vereador Aparecido Gonçalves Ferreira, conhecido como André Gonçalves (PDT), foi diretamente questionado sobre o uso pouco ortodoxo do veículo público. “Eu estava com o veículo em Palmas, mas não era eu quem dirigia”, limitou-se a responder. A evasiva, no entanto, apenas alimentou as ironias. Nas redes, o escárnio foi imediato: “Se não era ele, será que o carro foi sozinho? Gol com GPS romântico?”, ironizou um internauta. Outro disparou: “Motel agora é ponto de visita técnica? Precisamos dessa CPI!”
O caso escancara um velho problema da política brasileira: o uso de bens públicos como se fossem extensão da vida privada dos agentes públicos. É o tipo de comportamento que desmoraliza a função parlamentar e afasta o cidadão comum da política, já tão corroída pelo cansaço moral.
Em nota, a Câmara de Monte do Carmo informou que abrirá um processo administrativo para apurar quem estava ao volante — e, talvez, também no quarto. A nota oficial afirma que o presidente determinou a identificação do infrator e promete regulamentações mais claras para evitar “novas ocorrências dessa natureza”. É um reconhecimento tácito de que, até então, o bom senso não bastava.
O episódio não é isolado. Em dezembro de 2023, o vereador de Pedro Afonso, Mirleyson Soares Dias, foi condenado à perda do cargo por episódio semelhante. Usou carro oficial para ir a um motel em Palmas. Foi afastado da função e teve os direitos políticos suspensos por cinco anos. Um precedente que ronda, como sombra, a Câmara de Monte do Carmo.
O que diz a lei
O uso de veículos oficiais para fins particulares é vedado pela Lei nº 8.429/1992, que trata dos atos de improbidade administrativa. As sanções incluem desde multa até a perda da função pública, além da suspensão dos direitos políticos.
Mais que um deslize, o uso de um carro do povo para encontros íntimos é um símbolo de desprezo pelas obrigações republicanas. E, num país exausto de escândalos e promessas ocas, cada episódio como este é mais um tijolo na parede do descrédito.
Na república do improviso, até carro público vai parar no motel. E a ética? Continua esperando carona.