Em meio ao recesso parlamentar e ao silêncio dos comunicados oficiais, o clima nos bastidores da política palmense tem sido de tensão crescente. O prefeito em exercício Carlos Eduardo Velozo (Agir) foi convocado por vereadores para uma conversa fora da agenda pública, realizada na noite desta segunda-feira, 7, na sede da Câmara Municipal. A reunião escancarou o desconforto entre os Poderes e expôs o desgaste precoce da relação entre o Legislativo e a gestão interina.
Embora parlamentares neguem qualquer tratativa formal sobre um eventual impeachment do prefeito afastado Eduardo Siqueira Campos (Podemos), fontes ouvidas sob anonimato reconhecem que o termo chegou a ser mencionado nos bastidores. O que há, de forma mais palpável, é um mal-estar com o estilo centralizador e silencioso de Velozo, que até então não havia feito contato direto com a maioria dos vereadores desde que assumiu a chefia do Executivo, no fim de junho.
A principal queixa dos parlamentares diz respeito à ausência de comunicação institucional entre o prefeito interino e o Legislativo. “Ninguém recebeu uma ligação, uma mensagem sequer”, relatou um dos vereadores. O único contato direto registrado até então havia sido a breve presença de Velozo na posse do suplente Petion Corado (PSB), no último dia 3.
Durante a reunião desta segunda-feira, que contou com a presença de 16 dos 23 vereadores, o prefeito foi confrontado por críticas sobre exonerações de indicados políticos e ausência de alinhamento com as lideranças da Casa. Em resposta, Velozo teria subido o tom, afirmando que está “preparado para tudo” e que “fica quem quiser”, reconhecendo que não contará com a adesão unânime da base.
Chamou atenção também a presença de Fábio Bernardino (Agir), exonerado após uma entrevista polêmica nos primeiros dias da gestão interina, mas recentemente nomeado como secretário extraordinário de Representação em Brasília — gesto interpretado por alguns vereadores como provocação ou desafio.
Horas depois da primeira reunião, Velozo recebeu uma comitiva de quatro vereadores em seu gabinete no Orquidário: Marilon Barbosa (Republicanos), Iolanda Castro (Republicanos), Alex Mascarenhas (MDB) e Walter Viana (PRD). Segundo apuração da reportagem, o encontro foi protocolar e sem encaminhamentos concretos.
A movimentação intensa em pleno recesso aumentou as especulações políticas, mas os parlamentares ouvidos pela reportagem foram enfáticos em afirmar que não há clima para impeachment neste momento. O que se observa, porém, é um Legislativo inquieto e desconfiado com os rumos da gestão interina, que vem promovendo mudanças administrativas e nomeações estratégicas com pouca interlocução política.
“Ele está mexendo, sim. E isso pode bater direto com as tratativas feitas com Eduardo”, revelou um vereador, em reserva.
A tensão entre os Poderes ainda não explodiu em declarações públicas, mas é evidente nos gestos e falas reservadas. O prefeito interino tenta consolidar sua autoridade em um cenário delicado, enquanto os vereadores observam com cautela os passos de uma gestão que, até aqui, carece de articulação e unidade.
A depender da evolução dos próximos dias — e da habilidade de Velozo em recompor pontes —, o que hoje são apenas conversas de bastidores pode tomar contornos mais explícitos. Palmas vive um momento de transição incerta, e o desfecho dessa disputa silenciosa ainda está em aberto.
