Dois dias antes de ser exonerado da Secretaria da Zeladoria Urbana de Palmas, o vereador e ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) entregou ao prefeito Eduardo Siqueira Campos (Podemos) uma carta em tom firme, mas respeitoso. No texto, distribuído à imprensa logo após a publicação de sua exoneração no Diário Oficial da última quinta-feira (24), Amastha tenta desfazer rumores, nega categoricamente qualquer envolvimento em articulações paralelas e faz um apelo à razão: “Nunca houve de minha parte qualquer tipo de conspiração”.
O documento, com forte carga política e pessoal, revela um Amastha desconfortável com o ambiente de desconfiança instalado no núcleo do Executivo. “Fofocas infundadas, listas de supostos traidores, invenções absurdas sobre articulações inexistentes – tudo isso alimenta o ambiente municipal de desconfiança que só enfraquece a gestão e afasta a política do seu verdadeiro objetivo: servir a sociedade palmense”, escreveu.
A carta é, ao mesmo tempo, uma defesa pública, um desabafo político e um aviso. Amastha afirma que sua atuação na Zeladoria foi pautada pela responsabilidade, mesmo diante da falta de estrutura para a execução de tarefas básicas. “A Zeladoria é a vitrine da cidade. Não é possível deixá-la parar”, argumenta. E acrescenta: “Manter-se à frente da secretaria sem as ferramentas adequadas seria desonesto com a população e politicamente insustentável”.
O vereador ainda recorda o apoio decisivo de seu grupo político à eleição de Eduardo em 2024 e reafirma que sua adesão ao projeto do atual prefeito se deu por “convicção”, ao ver na criação da Zeladoria um gesto de lucidez administrativa. Ele cobra, no entanto, que a promessa de estruturar a pasta não foi cumprida.
Sem citar nomes, o ex-prefeito alfineta os bastidores do poder, critica o cerco de bajuladores e adverte o prefeito sobre o risco de se isolar. Em uma comparação histórica, cita a queda de Napoleão Bonaparte como resultado da rejeição a conselhos sensatos. “Sua queda começou não nos campos de batalha, mas nas decisões tomadas em salas fechadas, influenciadas por bajuladores e pelo orgulho”, escreveu.
O gesto de Amastha, no entanto, não foi suficiente para evitar sua exoneração. A decisão de Eduardo já estava maturada desde a semana anterior. O prefeito se incomodou com a postura de Amastha durante sua ausência do cargo, especialmente pela aproximação com o então prefeito interino, Carlos Velozo (Agir), e com o pastor Amarildo Martins, tido como principal articulador do breve governo interino. Além disso, chegaram ao conhecimento do chefe do Executivo relatos de movimentações de ex-secretários ligados ao PSB em favor de uma nova articulação política, o que Amastha nega com veemência.
Apesar da demissão, a carta não carrega tom de rompimento definitivo. Pelo contrário, Amastha reafirma seu compromisso com a cidade e diz permanecer à disposição. “Palmas é maior do que nós. Não pode ser refém de boatos, vaidades ou disputas de bastidores”, afirma no encerramento do documento.
Nos bastidores, o gesto foi visto como um “freio de arrumação” na base aliada de Eduardo, que enfrenta agora seu primeiro grande ruído político interno desde o início do mandato. Resta saber se a saída de Amastha abre espaço para recomposição ou se marca, de fato, o início de um distanciamento irreversível.