A crise que tomou conta do Tocantins após o afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) atingiu em cheio o funcionamento da Assembleia Legislativa. O plenário, que deveria ser o centro da atividade política do Estado, tem permanecido quase deserto. Em quarenta dias, apenas três sessões tiveram quórum suficiente para votações, um número que expõe o clima de paralisia e incerteza dentro da Casa.
A ausência dos deputados tem se repetido a cada convocação. Em uma das últimas sessões, 15 dos 24 parlamentares não compareceram, obrigando o presidente, Amélio Cayres (Republicanos), a encerrar os trabalhos sem deliberar sobre nenhuma matéria. O cenário se repete: a pauta cheia, os projetos acumulados e o plenário vazio.
O esvaziamento começou logo após a operação da Polícia Federal que teve como alvos dez deputados estaduais, investigados por suposto desvio de recursos públicos na compra de cestas básicas durante a pandemia. Desde então, o ambiente político da Assembleia é de retração e cautela. Os parlamentares investigados negam envolvimento.
Atualmente, mais de 1.500 projetos aguardam análise e votação. Entre eles está a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026, que deve concentrar as atenções nos próximos dias. O deputado Jair Farias (União Brasil) propôs uma mudança no uso das emendas parlamentares, sugerindo que apenas 10% dos valores possam ser aplicados em festas e shows.
“Não sou contra eventos, mas precisamos pensar em algo que permaneça. Shows movimentam a cidade por alguns dias, mas não deixam benefício duradouro. Por isso fiz essa proposta”, explicou o deputado.
Cada parlamentar estadual recebe hoje remuneração superior a R$ 52 mil mensais, enquanto as sessões seguem sem quórum e sem avanço nas votações. A presidência da Casa não quis se pronunciar sobre as ausências.
Nos corredores, o clima é de desconforto. Deputados evitam falar publicamente, e assessores relatam uma rotina marcada por adiamentos sucessivos. Enquanto o plenário segue vazio, o Tocantins assiste à lentidão de um Parlamento que parece ter perdido o ritmo num momento em que o Estado mais precisa de decisões, não de silêncio.