Nas margens tranquilas de um bosque antigo, onde o tempo parecia se estender como uma brisa lenta entre os galhos, vivia um carneiro simples, satisfeito com a rotina e o silêncio. Tinha o que precisava: pasto farto, sombra amiga e o conforto de um rebanho que se movia como um corpo só — sem pressa, sem medo.
Até que, numa tarde qualquer, um corvo pousou em um galho próximo, com olhos de alarme e voz urgente:
— Carneiro! Vi vultos entre as árvores! Algo se aproxima... tens de fugir!
O carneiro olhou, mas nada viu além das folhas. Ainda assim, sentiu o frio súbito da dúvida — aquele tipo de dúvida que, uma vez plantada, cresce como trepadeira. E o corvo, vendo o efeito, insistiu:
— Vem comigo. Não há tempo para alertar os outros. Eu sei o caminho seguro.
E o carneiro foi. Aos poucos, afastou-se dos seus, do seu chão, da sua rotina. Deixou para trás o pasto e seguiu o corvo, que saltava de galho em galho como quem guia — mas não revela. E quanto mais caminhavam, mais longe o lar ficava. E quanto mais longe, mais difícil era voltar.
— Já não devíamos retornar? — perguntou, já inquieto.
— Agora é tarde. Foste o único salvo — mentiu o corvo, que já não tinha urgência na voz, mas controle.
Quando o sol desapareceu por completo, chegaram a uma ravina estreita, cercada de rochas e silêncio. O corvo pousou na entrada, como uma sentinela.
— Aqui estarás seguro. Mas daqui não saíras sem mim.
Foi então que o carneiro entendeu: o perigo nunca estivera no bosque. O perigo era aquele que o convencera a fugir. O corvo não o protegera — o corvo o tomara para si. Com promessas de cuidado, conquistara-lhe a obediência. Com medo, moldara-lhe a vontade.
Moral da história:
Cuidado com os que surgem para te proteger, afastando-te primeiro dos teus e dos teus juízos. O manipulador raramente se impõe com força — antes, se insinua com zelo. O falso amigo não se apresenta como inimigo, mas como quem sabe o que é melhor para ti. Em nome do teu bem, ele te isola, te conduz, te molda — até que já não restem outros conselhos além do dele.
Seja no amor, na amizade ou na política, o método é o mesmo: inventar o perigo para vender a salvação. Tornar-se indispensável plantando dependência. O lobo pode usar pele de cordeiro, mas o corvo usa a palavra.
Preserva, pois, tua capacidade de perguntar. Teu senso crítico, por mais modesto que seja, é abrigo mais seguro que a eloquência de um corvo.