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24/06/2025 às 22h16min - Atualizada em 24/06/2025 às 22h16min

A Democracia das Coleiras: Uma Azul, Outra Vermelha.

Thiago de Castro

Thiago de Castro

Colunista e Editor do Jornal Correio do Tocantins

Livre-arbítrio? Só para quem se satisfaz em escolher a cor da coleira. A ilusão é engenhosa, cruel e, sobretudo, eficiente. Venderam-nos a ideia de que escolher entre esquerda e direita é, de fato, exercer poder. Que ingenuidade. O espetáculo está armado há décadas, talvez séculos. E nós, bovinos urbanos, seguimos marchando — dóceis — em direção ao mesmo matadouro de sempre.

 

Na esquerda, o script já é velho, mas segue funcionando. Discursos inflamados, punhos erguidos, palavras que cheiram a povo e justiça social. Mas basta olhar por trás das cortinas. Quem financia? Quem assina os contratos, quem recebe os benefícios silenciosos? A retórica é socialista, mas o backstage é privatizado. Falam de igualdade com a boca, mas brindam com a elite que fingem combater. E o povo? Este permanece exatamente onde sempre esteve: vulnerável, explorável, descartável. Peça de reposição no motor do poder.

 

Na direita, o canto é outro, mas o engano é o mesmo. Bradam por liberdade, empunham a bandeira da ordem, da família e da pátria. Vendem-se como antissistema, paladinos da moral e dos bons costumes. E enquanto a massa vibra, eles cochicham acordos nas sombras, selam alianças que traem cada palavra dita ao microfone. Querem o topo — e querem rápido. E, para isso, não medem preço: entregam princípios, rasgam coerências, transformam convicções em moeda de troca. O resultado? Uma legião de oportunistas fantasiados de salvadores.

 

 

Ambos os caminhos conduzem ao mesmo portão. Um portão sem disfarces, sem metáforas, sem romantismo. Nele se lê, em letras duras como pedra: “ABATE”. Este é o destino reservado a quem acredita que escolher entre dois trilhos é, de fato, ser livre.

 

Somos condicionados, desde sempre, a acreditar que temos escolha. Que o voto, que o partido, que o lado define nosso destino. Que tolice. A engrenagem foi desenhada para que qualquer direção escolhida nos conduza exatamente ao mesmo lugar: a manutenção do status quo, a perpetuação de uma ordem onde poucos mandam e muitos obedecem. Onde o sistema nunca perde. Onde a ilusão da mudança é o próprio combustível da opressão.

 

Mas há quem resista. Não por ideologia — que também é mercadoria. Nem por fé cega em slogans, bandeiras ou salvadores da pátria. Resistimos por instinto. Porque, lá no fundo, há uma consciência que não se cala, não se vende, não se ilude. Uma lucidez que não cabe nas urnas nem nas narrativas prontas.

 

Esse fio de consciência — quase sempre solitário, quase sempre incômodo — não aponta para o centro político, essa terra de ninguém onde a covardia se fantasia de moderação. Ele aponta para um centro moral, onde dignidade não é exceção, não é projeto de governo, não é promessa de campanha. É princípio. É chão. É norte.

 

Talvez nunca sejamos maioria. Talvez nunca sejamos multidão. Mas enquanto houver quem enxergue o curral, quem recuse o caminho do abate, quem ouse não escolher entre a coleira vermelha ou azul, haverá uma rachadura nesse sistema. E por essa rachadura, um dia, pode muito bem entrar a luz.

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