A Polícia Federal solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para apurar suspeitas de vazamento de informações sigilosas que teriam saído de dentro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A informação foi publicada pela Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (19), com base em documento sigiloso da corporação.
Segundo o pedido encaminhado ao ministro Cristiano Zanin, a PF apontou “riscos concretos” de que dados sensíveis sobre operações em curso tenham sido compartilhados de forma indevida. A solicitação ocorre no âmbito da Operação Sisamnes, que investiga a venda de decisões judiciais no STJ. A nova frente da investigação trata especificamente do vazamento de informações, sem relação direta com os ministros da Corte.
A origem das suspeitas remonta à análise de material apreendido durante a Operação Maximus, deflagrada no Tocantins em agosto de 2024 para investigar a negociação de sentenças no Tribunal de Justiça do Estado. Um dos diálogos interceptados, de junho do mesmo ano, envolve Thiago Barbosa de Carvalho, sobrinho do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e um desembargador. Na conversa, há menção a contatos em Brasília que estariam monitorando informações de investigações em trâmite no STJ.
As operações referidas no diálogo — a própria Maximus e outra que apura desvios na distribuição de cestas básicas durante a pandemia — foram deflagradas dois meses depois da gravação.
A Polícia Federal sustentou, no pedido ao STF, que há indícios de que os vazamentos partiram de dentro dos gabinetes do STJ. Embora o inquérito não tenha como alvo direto os ministros, estão sob apuração gabinetes de ao menos quatro deles: Og Fernandes, Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Paulo Moura Ribeiro.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), ao ser consultada, reconheceu “relação estrita” entre os supostos vazamentos e as investigações sobre venda de decisões judiciais. O ministro Zanin autorizou buscas e apreensões e expediu mandado de prisão contra Thiago Barbosa. No cumprimento das diligências, foram encontradas cópias de inquéritos sigilosos em um computador usado por ele.
A nova frente da Operação Sisamnes não envolve Andreson de Oliveira Gonçalves, lobista investigado na etapa inicial por suspeita de intermediar decisões no STJ. Nesta fase, o foco são os fluxos de informação e sua possível antecipação a alvos das operações.
O governador do Tocantins, por meio de nota, afirmou que não recebeu informações privilegiadas e que seus advogados já acompanhavam regularmente o processo relativo à operação das cestas básicas desde abril. A defesa de Thiago Barbosa não se manifestou. O STJ, por sua vez, declarou que não comenta investigações em andamento em outras instâncias.
A decisão de remeter o caso ao STF se deve, segundo a PF, à complexidade e ao alcance dos fatos, ainda que não envolvam diretamente autoridades com foro privilegiado. O processo segue sob sigilo.