Quem depende dos Correios para receber encomendas tem sentido, na pele, um problema que se alastra em silêncio: o colapso do sistema de entregas da estatal. Produtos comprados com urgência demoram semanas para chegar, encomendas somem em centros de triagem, e serviços pagos como “Sedex” viram promessas quebradas. A empresa não se pronuncia com clareza, mas o caos logístico está instalado — e parece ser consequência direta de decisões tomadas nos bastidores.
Nos últimos dias, consumidores indignados têm recorrido às redes sociais para expor o absurdo. Um deles resume o sentimento geral:
“Quando você faz uma compra online, você tá precisando do produto. E na teoria, é pra chegar bem rápido. Hoje você tem entrega feita, às vezes, em dois dias. É realmente uma surpresa a gente fazer uma compra, pagar inclusive uma entrega mais rápida, pela urgência, e ficar sem resposta”.
A resposta, quando vem, é evasiva. Em nota, os Correios tentam suavizar a crise com um discurso técnico:
“A empresa está implementando um conjunto robusto de medidas, de curto e médio prazos, para garantir a sustentabilidade econômico-financeira da estatal”.
Traduzindo: contenção de despesas, cortes operacionais, e reorganizações administrativas que estão travando o serviço. Não há, segundo eles, cortes de salários ou benefícios. Mas há sim um desmonte disfarçado, perceptível no cotidiano de quem usa o serviço.
O próprio sindicato dos trabalhadores confirma que há algo errado. Em entrevista à TV Clube, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos do Piauí, Edilson Santos, foi direto:
“As últimas decisões que houve, por parte da Direção Nacional dos Correios, estão afetando sim a dinâmica, principalmente a questão de logística”. Ou seja, o que a direção da empresa chama de “modernização” está, na prática, emperrando o sistema de entregas.
A impressão geral é de uma empresa que não sabe mais onde pisa. Sob a justificativa de equilibrar as contas, os Correios parecem sacrificar justamente aquilo que os sustentou por décadas: a confiança do povo. Envolta em discursos sobre eficiência e tecnologia, a estatal ignora o essencial — a encomenda que não chega, o carteiro que não aparece, o sistema que falha.
Enquanto isso, o comércio eletrônico — que cresceu alicerçado na estrutura nacional dos Correios — sente os efeitos do desmonte. Pequenos lojistas, que não têm acesso às transportadoras privadas, ficam sem alternativas. E o cidadão comum, que esperava apenas o livro, a peça de roupa ou o remédio chegar, precisa aprender a esperar mais. E calado.
Há uma contradição dolorosa: os Correios, símbolo da presença do Estado em cada canto do Brasil, agora operam como se fossem uma empresa a qualquer custo, mas sem a agilidade das privadas nem o compromisso público que justificaria sua existência. O resultado é um limbo: não entregam como deveriam, não explicam como poderiam, e não admitem o que está diante de todos.