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Laudo da PF confirma omissão e excesso de carga na queda da ponte JK entre Tocantins e Maranhão

Por Thiago de Castro - Correio do Tocantins
28/07/2025 13h19 - Atualizado há 1 dia
4 Min

Mais de sete meses após o trágico colapso da ponte Juscelino Kubitschek, que ligava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), a Polícia Federal concluiu a perícia que buscava esclarecer as causas da queda. O resultado do laudo técnico, confirma o que muitos já temiam: a tragédia era evitável e foi precedida por omissões graves.

Segundo os peritos, o desabamento foi provocado pela deformação do vão central da estrutura, diretamente relacionada ao excesso de peso dos veículos que trafegavam pela ponte no momento do acidente. O processo de colapso completo durou cerca de 15 segundos; o vão central cedeu em menos de um.

A ponte, inaugurada na década de 1960, era um marco de engenharia à época, com um vão livre de 140 metros sustentado por tecnologia de concreto protendido — inovação no Brasil daquele período. No entanto, o avanço das décadas não veio acompanhado da devida atualização estrutural. A última reforma de vulto ocorreu entre 1998 e 2000, quando a ponte recebeu uma camada nova de asfalto e reforços laterais. Esse reforço, segundo os peritos, teria sido arrancado “como fita crepe” no momento do colapso, revelando fragilidade na intervenção feita.

Além disso, um relatório técnico encomendado pelo DNIT em 2019 — e publicado em 2020 — já apontava para o risco iminente. O documento mencionava rebaixamento de 70 centímetros no vão central, vibrações excessivas e classificava as condições da ponte como “sofríveis e precárias”. Mesmo assim, nenhuma intervenção foi realizada. Uma tentativa de licitação feita em 2024 não teve sucesso, e o desabamento ocorreu antes que um novo edital fosse finalizado.

O delegado federal Allan Reis de Almeida, responsável pelo inquérito, foi categórico: “Houve uma omissão por parte de agentes públicos quanto à manutenção da obra. Não posso falar que esse desastre foi um caso fortuito. Ele foi anunciado, era de conhecimento, e era plausível que poderia acontecer.”

A Polícia Federal agora pretende ouvir os responsáveis pelo planejamento da recuperação da ponte. A investigação busca esclarecer por que o tráfego não foi interrompido mesmo após a emissão dos alertas técnicos.

O DNIT, autarquia federal responsável pela manutenção da ponte, informou que sua comissão interna concluiu os trabalhos e encaminhou o relatório à corregedoria do órgão. O Ministério dos Transportes afirmou que exonerou o superintendente regional do DNIT no Tocantins, Renan Bezerra de Melo Pereira, em abril. Em nota, Renan declarou que exerceu o cargo com zelo e responsabilidade durante um ano e cinco meses, que aguarda a apuração final dos fatos e nega qualquer culpa pela tragédia.

O acidente, ocorrido no dia 22 de dezembro de 2024, na véspera do Natal, resultou na morte de 14 pessoas. Três seguem desaparecidas. Apenas uma sobreviveu. Entre os mortos, está a família de Alessandra, Salmon e o neto Felipe, de apenas 10 anos, que viajavam de Palmas rumo ao Maranhão. A caminhonete da família foi registrada em vídeo atravessando a ponte instantes antes do colapso. O corpo de Alessandra foi localizado, mas Salmon e Felipe permanecem desaparecidos.

O que restou da ponte foi implodido em fevereiro deste ano. No local, está em construção uma nova estrutura com 630 metros de extensão — 100 a mais que a antiga — e um vão central de 154 metros, sustentado por pilares de altura equivalente a um prédio de sete andares. A nova ponte, orçada em R$ 171 milhões, deve ser concluída até dezembro.

Enquanto a obra não termina, a travessia entre os estados é feita por balsas, com longas filas e esperas que chegam a durar horas. “Cheguei meio-dia e só consegui passar 10 da noite”, relatou o caminhoneiro Júlio César.

Para o diretor técnico-científico da PF, Roberto Reis Monteiro Neto, a tragédia serve de lição: “Se eu tenho uma manutenção adequada, no tempo certo, e reavaliações periódicas da carga suportada pelas pontes, talvez a gente consiga evitar que isso aconteça novamente.”

A ponte caiu. Mas os alertas já estavam no chão muito antes dela.


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