A sessão da Câmara Municipal de Colinas, realizada na noite desta segunda-feira (6), foi uma das mais intensas do ano. O plenário se transformou em arena de embates políticos diretos, com discursos contundentes, acusações cruzadas e uma série de revelações feitas por vereadores da oposição e da base.
O clima tenso refletiu o atual momento político do município, em que a relação entre Legislativo e Executivo mostra sinais de desgaste.
A vereadora Naiara Miranda (MDB) abriu os discursos da noite com críticas severas à condução administrativa do prefeito Josemar Carlos Kasarin (UB), denunciando casos de perseguição política e deficiências estruturais na rede municipal de saúde.
Ela voltou a citar o caso da servidora Alcira, presidente do Conselho Municipal de Saúde, que, segundo a parlamentar, teria sido alvo de perseguição após apresentar um relatório de quase 200 páginas com irregularidades na unidade hospitalar.
“Já são cinco anos da mesma gestão, e os mesmos problemas persistem. A Alcira mostrou todas as mazelas do hospital e foi perseguida por isso. O prefeito tenta pagar de bom moço, mas o povo de Colinas não é bobo”, declarou.
Naiara também relatou a própria experiência no Hospital Municipal, onde acompanhou o atendimento ao pai, vítima de um acidente.
“Faltam profissionais, faltam médicos. Vi enfermeiros sobrecarregados e pessoas esperando por horas. Não é por falta de vontade dos servidores, é por falta de gestão”, afirmou.
A reação veio em seguida. O vereador Jefferson Bandeira Chokito (Republicanos), aliado direto do prefeito, rebateu as críticas de Naiara e acusou a oposição de tentar “criminalizar” a imagem do gestor.
“O prefeito tem falhas, como qualquer um, mas é um bom administrador. Não é à toa que foi o mais bem votado da história de Colinas e tem 90% de aceitação. Criar um monstro político é uma tentativa frustrada”, declarou.
O tom subiu quando o parlamentar afirmou que a vereadora seria alvo de representações no Ministério Público informação que ela negou de forma veemente, afirmando desconhecer qualquer denúncia contra si e retrucando:
“Se há algo acontecendo e o senhor sabe, é porque está envolvido. Até onde sei, quem está sendo investigado pela Polícia Federal é o senhor”, respondeu Naiara, em um dos momentos mais tensos da sessão.
O vereador Edmilson Bolota (UB) também se manifestou e reforçou as denúncias de perseguição política dentro da Prefeitura. Ele relatou ter sido transferido de setor sem justificativa técnica e afirmou que chegou a ser pressionado a gravar vídeos em apoio ao prefeito.
“Disseram pra eu gravar um vídeo elogiando o prefeito que minha mulher seria empregada. Eu não quero emprego pra ninguém. Eu quero respeito e quero proteger o povo de Colinas. Eu fui perseguido, sim”, declarou, afirmando que “a política não pode ser troca de favores”.
Bolota encerrou pedindo unidade entre os parlamentares e criticando o clima de hostilidade dentro do plenário:
“Nós temos que proteger o nosso povo. O homem não pode perder sua personalidade. Eu não vou me curvar para defender erro de ninguém.”
O presidente da Câmara, vereador Augusto Agra (UB), fez um discurso de forte tom político e técnico, buscando retomar o debate com base em números e comparações.
Agra elogiou a postura da vereadora Dayhany Mota, que havia citado a gestão do ex-prefeito Adriano Rabelo, e fez questão de resgatar dados que, segundo ele, mostram como Colinas recebeu recursos significativos na transição entre governos e que a atual administração precisaria demonstrar melhor uso desse patrimônio.
“Na gestão do ex-prefeito Adriano, houve falhas, sim, mas também muitos recursos deixados. Foram R$ 17 milhões do Finisa, R$ 6 milhões para o asfalto da Pedro Ludovico, R$ 5 milhões da senadora Dorinha para o Setor Sul, R$ 7 milhões para a escola de 12 salas do Cacau, R$ 1 milhão para o CRAS do Santa Rosa, R$ 10 milhões do Parque das Cidades. No total, cerca de R$ 60 milhões. Dinheiro que o atual prefeito teve em mãos”, afirmou Agra.
O presidente cobrou mais planejamento da atual gestão e criticou a lentidão administrativa:
“Estamos indo para seis anos de mandato. Não é mais tempo de desculpas. Não se pode demorar dois anos para comprar uma cadeira para o hospital. Dinheiro público não é para ser guardado, é para ser bem gasto e bem gerido. A população precisa ver resultado”, disse.
Agra ainda mencionou o caso do Conselho Tutelar, afirmando que o prédio está alugado há três meses sem reforma e com estrutura precária.
“Geladeira quebrada, carro sem manutenção, conselheiro sem capacitação. Isso é descuido com o dinheiro público. A Câmara precisa fiscalizar, e o prefeito precisa agir”, pontuou.
Por fim, o presidente pediu “maturidade política” e defendeu o papel da oposição como instrumento essencial para o equilíbrio democrático.
“A oposição tem que apontar os erros, e a situação deve saber ouvir. Só quem ganha com isso é o povo de Colinas.”
A sessão escancarou a divisão política dentro da Câmara e consolidou uma oposição cada vez mais firme contra a base do prefeito Kasarin. O plenário foi palco de ataques diretos, mas também de cobranças por mais transparência, eficiência administrativa e respeito entre os parlamentares.
Com as eleições estaduais de 2026 no horizonte e Kasarin sendo cotado como pré-candidato a deputado estadual, os embates na Câmara indicam que a disputa política em Colinas já começou a ganhar contornos de uma batalha antecipada.