09/05/2023 às 20h38min - Atualizada em 09/05/2023 às 20h38min

Endometriose: por que estão crescendo os casos no Brasil?

Caracterizada pelo crescimento anormal do tecido endometrial em regiões localizadas fora da cavidade uterina, a endometriose vem crescendo e atingindo níveis alarmantes no Brasil

Mariana Rodrigues - Correio do Tocantins
Caracterizada pelo crescimento anormal do tecido endometrial em regiões localizadas fora da cavidade uterina, a endometriose vem crescendo e atingindo níveis alarmantes no Brasil. Nunca se notificou tantos casos. Em 2022, as estimativas apontam para até 7 milhões de diagnósticos de endometriose foram realizados no Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Para se ter um parâmetro melhor, apenas em 2021, foram realizados mais de 26,4 mil atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com 8 mil internações devido a esta condição, de acordo com o Ministério de Saúde. Mas por que esse número vem crescendo

O primeiro ponto a se considerar é a recente conscientização, com a popularização da doença e seus efeitos, o que tem trazido benefícios importantes. Ao conhecer a enfermidade, mais pacientes procurem o serviço de saúde, aumentando a taxa de mulheres com endometriose. Isso significa que uma parcela das mulheres que, anteriormente desconheciam a doença, agora têm informação e buscam por diagnóstico e tratamento.  

Além disso, há inúmeros fatores externos que têm contribuído com o surgimento da endometriose. Estes fatores, em maior ou menor grau, têm estado mais presentes nas vidas das mulheres no momento atual, com grande diferença do estilo de vida que as mulheres tinham no passado. Hoje, assumindo diversos papéis, como profissionais e mulheres empoderadas, têm aumentando o alto índice de estresse, um grande fator que pode contribuir com a endometriose.

Outros aspectos, como a alimentação inadequada, também fruto dessa sobrecarga da mulher moderna, a falta de tempo para a prática de atividades físicas, vitais para o bom funcionamento do nosso organismo, bem como o adiamento da gravidez, em função dos desafios profissionais constantes, também têm influenciado no aumento dos diagnósticos de endometriose.

Se, há 20 anos, a mulher optava por engravidar entre 20 e 30 anos, hoje esse quadro é bem diferente, de acordo com dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS). Hoje, é comum que as mulheres deixem para optar pela gestação após os 30 anos, às vezes, até após os 40. E isso tem reflexos no organismo: o corpo da mulher vai se alterando com a idade e a gravidez, principalmente após os 40 anos, pode enfrentar mais riscos, implicando em problemas como abortamento, diabetes gestacional, além de outras complicações que podem surgir no início da gestação.

Há ainda a questão da hereditariedade, ainda pouco comentada com relação à endometriose. Por isso, é importante ter atenção a casos diagnosticados na família, para permitir outros diagnósticos futuros com rapidez, em função do histórico familiar.  
As mulheres devem atentar-se aos primeiros sintomas, que podem incluir, além da cólica menstrual intensa e com característica progressiva, dores durante a relação sexual e, em alguns casos, infertilidade. Em menor grau, podem aparecer outros sintomas de alerta, como sangramento nas fezes, massa abdominal palpável, alterações intestinais e dor para evacuar ou urinar.

A importância do diagnóstico precoce está relacionada aos cuidados que devem ser incluídos na rotina da mulher diagnosticada: uma dieta adequada e anti-inflamatória e a prática de exercícios físicos passam a ser obrigatórias, para a manutenção de um estilo de vida mais saudável.

Alguns alimentos passam a se tornar proibidos ou têm consumo restrito, sob a ótica do estímulo à inflamação, como leite, alimentos que possuem glúten, açúcar e carne vermelha, entre outros.


Apesar de existir tratamento e a possibilidade de cirurgia, com indicação para alguns casos, a endometriose não tem cura. Por isso, existe a necessidade de uma mudança permanente na vida da mulher, para que a doença possa ser controlada e a mulher possa conviver em paz com a endometriose.


Mariana Rodrigues é ginecologista especialista em endoscopia ginecológica e em tratamentos voltados para ginecologia regenerativa
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