23/01/2024 às 12h38min - Atualizada em 23/01/2024 às 12h38min

Fanatismo político é uma doença? por Moshé Bergel

Moshé Bergel

O fanatismo político pode ser considerado uma doença? Essa é uma questão que ganhou relevo nos últimos anos com a escalada da tensão política no Brasil e no mundo.

Observando o comportamento das pessoas mais radicalizadas na defesa de suas crenças, nos acostumamos a testemunhar cenas intolerância e até de violência.

Um comportamento que sem dúvida destoa do padrão e oferece riscos ao indivíduo que se comporta de maneira tão ardorosa, e por vezes inconsequente, e as pessoas ao seu redor.

Ora, comportamento que gera danos físicos e mentais a si próprio e a terceiros não é uma característica de transtorno mental? Não se trata de uma psicose?

Neste artigo me proponho a esclarecer essa questão, definir o que é fanatismo político, quais são os seus efeitos e se existe algum tratamento. Siga na leitura.

O que é fanatismo político?

Fanatismo político se trata de uma defesa obsessiva, acrítica e apaixonada por uma crença ou comportamento na qual não se admite o contraditório, isto é, refutação. Dá pouca abertura para tolerância a ideias contrárias.

No dito popular, uma pessoa que costuma “passar do ponto” quando o assunto é política, enfrenta sérias dificuldades para se conter ou não consegue desviar do assunto.

Mas é uma doença?

Apesar do comportamento, digamos, acima do tom, do desequilíbrio emocional, da forma excessivamente contundente e por vezes até agressiva, verbal e fisicamente, de uma pessoa fanática por uma crença política, o fanatismo político não é considerado uma doença.

A literatura psiquiátrica existente sobre o assunto o classifica como um comportamento disfuncional, mas que não chega a ser uma doença.

Quer dizer que não tem problema se comportar como um fanático?

Esse é o engano. O problema do fanatismo político em termos de saúde para o indivíduo e para as pessoas que o cercam é que essa postura pode evoluir para um distúrbio psiquiátrico.

Isso vai depender do prejuízo que a pessoa fará a si mesma por acreditar em suas crenças e o impacto que causará no seu entorno.

Por exemplo, um cidadão que se convence que medicamentos naturais são os melhores para tratar de seus problemas de saúde, seja por motivo político, religioso, cultural, etc., tende a ter dificuldades de acreditar que tais medicamentos podem ser perigosos e os comprovadamente eficazes não. Sua conduta passa a ser fundamentada por crença que não se baseia em métodos científicos.

Ele corre o risco de comprometer a sua saúde tanto física quanto psicológica ao não tratar seus problemas clínicos de forma adequada.

Quando as crenças, em grande medida, não têm relação com os fatos, essa postura de constante negação da realidade sem dúvida favorece um estado de confusão, uma perda da capacidade, ainda que temporária, de distinguir o real do falso.

Pessoas em negação da realidade sem dúvida estão mais próximas de desenvolver um transtorno mental. Não significa que fatalmente isso ocorrerá, mas as chances nesses casos são mais elevadas.

Sintoma de patologias

Há correntes de pensamentos que associam o fanatismo político a um sintoma de transtornos psicopatológicos. Ou seja, a conduta não seria a causa, mas uma consequência de um distúrbio em evolução na mente do indivíduo.

Os distúrbios na qual o fanatismo político foi associado são a psicose e a esquizofrenia.

Porém, é preciso não incorrer em uma precipitação. Fanatismo político não é necessariamente uma evidência de que a pessoa esteja psicótica ou esquizofrênica. Problemas de saúde mental e fanatismo podem coexistir e sem se relacionarem.

Consequências do fanatismo político

Além do risco de se submeter a crenças que provoquem danos físicos e psicológicos e favorecer a evolução de um transtorno mental, o fanatismo político ainda traz problemas de relacionamento interpessoal.

Como vimos, um fanático, por definição, seja político, religioso, esportivo etc. é um intolerante, alguém que não aceita opiniões contrárias e defendem seus argumentos com ardor excessivo.

Inflexibilidade que favorece a postura de não escutar familiares e amigos que queiram lhe oferecer ajuda. Pelo contrário, o fanático acaba afastando essas pessoas e ficando isolado. Solidão, rejeição são sensações que sem dúvida não favorecem a estabilidade emocional e potencializa o surgir de transtornos.

Outra consequência perigosa do fanatismo político é a de estimular o indivíduo a estreitar relações com grupos que pensem da mesma maneira que ele. Naturalmente, ao estar próximo de pessoas que apresentem o mesmo grau de fanatismo em suas crenças as fortalecerá e dificultará a abertura ao contraditório. Ele passa a viver em bolhas que alimentam o seu fanatismo.

Quando esses grupos se juntam e tentam impor suas visões de mundo recorrendo, o que não é estranho ao fanatismo, a força, põem em risco a existência de todos que pensam o contrário. Logo, passam a representar um risco não só a si mesmos, mas a toda uma sociedade.

Como identificar um fanático político?

Há três elementos a se levar em conta para classificar alguém como um fanatismo político.

  • Intensidade;

  • Intolerância;

  • Incoerência.

Quando o discurso do indivíduo se mostra por demais exacerbado as normas culturais do entorno, intolerante a qualquer divergência levantada e ignorando incoerências flagrantes nos seus argumentos, está caracterizado um fanatismo político.

Buscar apoio profissional faz sentido?

Depende muito do contexto, depende do quanto essa conduta está prejudicando a vida afetiva, profissional, acadêmica etc. Também depende do quanto a pessoa está afetando negativamente o seu entorno.

Fanáticos podem se demonstrar intransigentes em seus pontos de vistas sem tentar impor sua opinião a terceiros.

Se a pessoa for convencida de que suas crenças é a causa de seu problema, sem dúvida mal não irá fazer receber suporte de um profissional para lidar com essa nova situação. Afinal, não é fácil abrir mão de dogmas que muitas vezes norteiam uma vida inteira, principalmente se a pessoa estiver inserida em grupos, ancorar sua vida social em coletivos de natureza fanática.

No entanto, algumas dessas pessoas podem apresentar características que estimulam o comportamento belicoso e irracional. É comum que pessoas fanáticas sejam muito ansiosas e tenham dificuldade de controlar seus impulsos.

Há tratamentos para lidar com esses problemas. Um deles é a hipnoterapia. Mas, isso é assunto para um próximo artigo.

Moshé Bergel é Pós-graduado em Cultura Judaica pelas Faculdades Renascença - Graduado em Bachelor of Talmudic Law pela Ner Israel Rabbinical College (Baltimore, MD – EUA) - Pedagogo pela Michlalah Jerusalem College

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