12/09/2023 às 09h31min - Atualizada em 12/09/2023 às 11h13min

UFT recebe doações de corpos humanos para estudos; saiba como

O Programa de Doação de Corpo (PDC) da UFT foi criado em 2019 e já recebeu mais de 15 doações entre corpos e membros amputados. Doadores se sentem orgulhosos de participarem do projeto.

- Correio do Tocantins
Coração humano usado nos estudos de anatomia da UFT — Foto: Arthur Girão

O ato de doar pode ter vários destinos. Doar roupas para quem precisa, doar dinheiro para alguma instituição de caridade e até doar um cachorro para ser a companhia de alguém. Mas um programa da Universidade Federal do Tocantins (UFT) recebe um tipo de doação diferente: o corpo humano.

O Programa de Doação de Corpo (PDC) incentiva pessoas a doarem, após a morte, os seus próprios corpos para contribuir nos cursos de saúde e também para estudos científicos.

A doação de cadáveres, apesar de um pouco polêmica, tem um grande valor para o estudo das áreas da saúde. Gabriela Ortega, biomédica, professora de anatomia e uma das responsáveis pelo projeto explica que pela complexidade do corpo humano. Modelos sintéticos são bastante inferiores aos corpos reais.

 

"É difícil estudar esses pontos sem de fato usar o corpo humano, ele (o corpo) é insubstituível, complexo e os corpos não são iguais. Modelos de borracha são todos idênticos e as pessoas não, existem diferenças de tamanho, peso e variações anatômicas. Então é incomparável para formação estudar com peças reais" explica a professora.




Desde a fundação em 2019, o programa já recebeu doações de mais de 15 exemplares. Entre eles corpos, órgãos, recém nascidos e fetos. Além disso, 20 pessoas já preencheram documentação para doarem os corpos após a morte.

Outro tipo de doação também é a de ossos exumados. "Depois de enterrados em cemitérios particulares, às vezes anos depois as famílias não tem mais condições de pagar as taxas que esses lugares cobram e decidem entregar para gente, essas peças também servem para estudos anatômicos".



Mesmo com a doação, o programa diz que os processos funerários, como velório podem ser feitos por entes queridos do doador.

 

"O velório acontece normalmente, a diferença é que depois, no lugar do caixão ser enterrado ou cremado o corpo vem para universidade".


Em respeito pelos doadores e famílias, já que algumas têm a tradição de visitar os mortos em determinadas datas, como dia de finados, o programa pretender colocar um memorial no campus de Palmas como homenagem aos doadores.

Como doar?
Para doar é preciso preencher um formulário que está disponível no site da UFT, além de avisar a família. A doação não é definitiva, o doador (ainda em vida) pode suspender o cadastro a qualquer momento, basta comunicar a universidade. A família também pode se recusar a doar mesmo depois da morte do doador, por isso a importância de uma conversar para esclarecer tudo.

O programa também recebe doações de membros amputados ou retirados em cirurgia de rim, vesícula ou útero. Depois de doado, o corpo ou membro é preparado para ser utilizado nas aulas. A professora Gabriela explicou o processo que é bem parecido com o que é feito em funerárias.

 

"É injetado formol no sistema vascular através de uma artéria. O formol para a decomposição do corpo. Depois disso os corpos são submersos também em formol ou em uma solução de glicerina e álcool de quatro a seis meses em tanques no laboratório".




Existe também o processo de descaracterização do corpo, tornando impossível de reconhecer quem era aquela pessoa em vida.

 

"A descaracterização do corpo do doador é completa, sinais, cicatrizes ou tatuagens são removidas e o processo de dissecação deixa o rosto e outras partes do corpo que poderiam ser identificáveis irreconhecíveis".


A questão de segurança sanitária também é levada a sério. Os componentes químicos que preservam o corpo podem causar mal-estar, então existem protocolos para ter acesso.
 

"O laboratório de anatomia é restrito, quem pode acessar são os técnicos do laboratório, os professores de anatomia e os alunos da disciplina. Além disso, quando não estão sendo usadas as peças e os corpos humanos ficam em outra área onde os alunos não podem entrar ", afirmou a professora.


As experiências dos alunos
Pode até parecer mórbido e um pouco assustador, mas os professores e alunos tratam os doadores com respeito e empatia. Fernanda, aluna de medicina de 23 anos conta que no primeiro momento existe um choque.


"Quando eu entrei no laboratório na primeira vez ainda fiquei um pouco afastada, no fundo. Foi mais ou menos uma hora até eu conseguir chegar perto do cadáver para manusear. A gente sempre lembra que eles não são bonecos, são pessoas que estão ajudando na nossa formação, por isso sempre existe respeito no manuseio".




Alguns alunos sentem tanto respeito pelo projeto que também são inscritos como doadores. Adriano Jardim é um exemplo, o aluno se orgulha da escolha. "Existem sentidos na vida, mas também pode existir um sentido na morte. Doando eu acho que posso contribuir com a formação que estou recebendo e com a de futuros colegas a partir de mim mesmo. Além de ter um orgulho grande disso, acho que fazendo isso com a minha morte, vou estar causando um sentido a ela" contou.

A família de Adriano lida bem com a escolha do aluno. "No início ninguém gosta, mas compreenderam que não impede de fazer uma despedida, um velório. Meus entes queridos ainda vão ter a lembrança".

Espirituoso, Adriano explica como vê a morte e "vida" nos laboratórios. "É como se fechasse uma cortina. Para os não doadores geralmente vem sepultamento e provavelmente ninguém mais vai lá ver eles. Eu não, vou ser visitado todos os dias".

 


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