É fato que a creatina traz benefícios para quem treina e faz o uso diário e correto do suplemento. Mas quem não faz exercício físico também pode usar a substância?
Os ganhos com a utilização do suplemento – que em geral são de força e resistência muscular – potencialmente seriam observados nas funções cognitivas, além de auxiliar em casos de sarcopenia e Alzheimer.
Mas nem todos esses efeitos são realmente comprovados cientificamente.
Em resumo, o que os especialistas explicam é:
A creatina não é exclusiva para quem treina, mas os benefícios para pessoas sedentárias são observados em casos específicos, como idosos ou pessoas que enfrentam perda de massa muscular (sarcopenia).
Apesar da creatina ser muito popular entre quem pratica exercícios físicos e tem como objetivo a melhora do desempenho nos treinos, o uso substância também pode ser positivo para pessoas sedentárias em algumas situações.
É importante lembrar que a creatina é um composto produzido pelo corpo a partir de três aminoácidos: glicina, metionina e arginina. A substância, produzida pelo fígado, pâncreas e rins, é armazenada nos músculos e utilizada como fonte de energia para as células.
No caso de pessoas saudáveis que não treinam, não há necessidade da suplementação com creatina. A ingestão não trará o efeito desejado e a substância será excretada na urina.
Diogo Toledo, nutrólogo do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o consumo do suplemento pode ser interessante para pessoas sedentárias com problemas específicos.
"A creatina não é exclusiva para quem treina. Pessoas sedentárias também podem se beneficiar, especialmente idosos e indivíduos que enfrentam perda de massa muscular ou problemas cognitivos", detalha Toledo.
O especialista comenta que, nesses contextos, o uso da creatina tem como objetivo melhorar a saúde muscular, além de potencialmente auxiliar na função cerebral.
Patrícia Campos Ferraz, PhD em bioquímica pelo Instituto de Biologia da Unicamp, também acrescenta que, nos casos de sarcopenia, o consumo do suplemento se mostra efetivo, principalmente em idosos.
️Sarcopenia é uma condição que se caracteriza pela perda progressiva de massa, força e funcionalidade muscular. Ela pode ocorrer pelo processo de envelhecimento ou por consequência de uma doença crônica.
"A creatina aumenta da geração de ATP (energia) muscular, o que eleva a quantidade de massa magra e a resistência à fadiga, especialmente em idosos", comenta.
Gustavo Starling Torres, médico especialista em Medicina Esportiva e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), também acrescenta que a suplementação pode ajudar a preservar ou ao menos reduzir o ritmo da perda muscular e melhorar a qualidade de vida.
"Obviamente, a suplementação aliada ao exercício físico, principalmente a musculação, trará os melhores resultados", complementa.
Considerando o papel que a creatina desempenha no metabolismo energético celular alguns estudos, têm sido realizados para investigar os efeitos que a substância poderia ter em casos de Alzheimer.
Isso porque essa função é muito afetada em pacientes que desenvolvem a doença.
Patrícia Ferraz, que estudou a suplementação de creatina em seu pós-doutorado pela Escola de Educação Física e Esporte da USP, explica que há evidências de um aumento da capacidade energética cerebral com o uso do suplemento, mas a eficácia na melhora da função cognitiva em quadros de Alzheimer ainda é limitada.
"Estudos mostram que a suplementação de creatina pode melhorar a memória de curto prazo, mas seu efeito na memória de longo prazo ainda precisa de mais estudos", analisa.
️Uma revisão de 24 estudos que envolviam Alzheimer e a creatina como potencial tratamento publicada na revista científica International Journal of Development Research em 2023 chegou a uma conclusão semelhante.
De acordo com os pesquisadores, a creatina pode ter valores terapêuticos sobre a doença, mas a "aplicabilidade ainda está em estágio inicial e os resultados estão em processo de se tornarem evidentes".
Diogo Toledo afirma que a pesquisa do uso da creatina em casos de Alzheimer ainda está em desenvolvimento, com alguns estudos apontando que a substância poderia ter um papel neuroprotetor e ajudar na função cerebral, mas ainda não é algo comprovado.
"Não há comprovação definitiva de que a creatina seja eficaz no tratamento ou na prevenção do Alzheimer. Mais pesquisas são necessárias para entender se pode ser uma opção terapêutica viável", alerta.
Creatina e os ganhos cognitivos
Outro ponto bastante discutido quando o assunto é creatina são os ganhos que o suplemento poderia trazer às funções cognitivas.
Algumas pesquisas sugerem que a creatina pode contribuir para a melhora de aspectos como memória e concentração, principalmente em condições de alta demanda cognitiva, como em situações de estresse.
️Um estudo publicado na revista científica "Scientific Reports" no início de 2024, por exemplo, concluiu que a creatina poderia melhorar temporariamente o desempenho cognitivo em pessoas com privação de sono.
Starling explica que isso é observado porque o suplemento ajuda a aumentar a energia disponível no cérebro, permitindo que ele funcione melhor em momentos críticos.
Apesar dos resultados positivos, o médico alerta que esses ganhos variam muito entre indivíduos e não há consenso na comunidade científica sobre a extensão desses efeitos.
Toledo ainda comenta que os estudos mostram que a suplementação poderia aumentar a memória de curto prazo e atenção, mas que os benefícios seriam mais evidentes em pessoas com baixos níveis de creatina cerebral.
"Esses ganhos não são tão visíveis em indivíduos jovens e saudáveis que já têm bons níveis de creatina no cérebro", afirma.
O maior consenso entre os especialistas é que é possível que os benefícios da creatina possam ir além da melhoria na força e resistência, mas os resultados ainda são limitados.
️Isso considerado, ainda que seja apenas para a suplementação visando o exercício, ela deve ser feita com acompanhamento médico.