Vivemos a era da exaltação do “seja você mesmo”, um mantra repetido à exaustão como se fosse virtude absoluta — mesmo quando o “eu mesmo” é arrogante, mal-educado, desequilibrado. Em nome da autenticidade, muita gente tem confundido sinceridade com grosseria, liberdade com ausência de limites e personalidade com falta de caráter.
Surgem por toda parte críticas certeiras a essa cultura da autenticidade vazia — colagens visuais, frases mordazes, sátiras afiadas que expõem o que se tornou evidente demais para ser ignorado: estamos rodeados de gente que se orgulha de ser insuportável. Gente que se esconde atrás do discurso do “sou assim mesmo” para justificar sua falta de empatia, sua incapacidade de crescer e seu desprezo pelas regras básicas da convivência.
O problema não está em ser verdadeiro, mas em usar essa verdade como escudo para atitudes tóxicas. “Ser você mesmo” é um ideal belo — desde que esse “você” seja alguém capaz de viver em sociedade. Caso contrário, vira apenas um álibi para permanecer infantil, egoísta, grosseiro.
Estamos diante de uma geração criada para não se dobrar, para não ouvir críticas, para não aceitar correções. Qualquer limite é tachado de opressão, qualquer “não” é um gatilho emocional. O resultado é uma multidão emocionalmente frágil, mimada, incapaz de se responsabilizar por seus atos. Gente que confunde autenticidade com histeria, opinião com ofensa, liberdade com anarquia.
A verdade é que ser verdadeiro não é ser estúpido. Ser autêntico não é viver sem freios. E ser você mesmo não dá a ninguém o direito de ser um problema para o mundo. O mundo não precisa de mais egos inflados se passando por coragem. Precisa de gente que saiba crescer, amadurecer, calar na hora certa e, sobretudo, conviver.
Autenticidade sem empatia é só vaidade barulhenta. E, como dizia minha avó, quem fala demais, entrega o vazio que carrega por dentro.