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02/07/2025 às 18h28min - Atualizada em 02/07/2025 às 18h28min

A política ama a traição, mas odeia o traidor

Thiago de Castro

Thiago de Castro

Colunista e Editor do Jornal Correio do Tocantins

Tem frases que nascem condenadas à eternidade. “A política ama a traição, mas odeia o traidor” é uma delas. Tantas vezes repetida, tantas vezes ignorada, ela reaparece agora, feito sombra, sobre o gabinete do novo prefeito em exercício de Palmas, Carlos Velozo.

Carlos não foi eleito, mas virou prefeito. E nisso não há nada de errado — a lei prevê, a justiça manda, a cadeira gira. O problema é o que se faz com essa cadeira quando se está sentado nela por acidente do destino e não por escolha direta do povo.

Ele agora está diante daquele instante raro e perigoso em que o poder se oferece sem pedir garantias. Um campo de flores que esconde minas. Pode tudo, aparentemente. Tem uma cidade nas mãos. Uma caneta cheia. Uma tropa de bajuladores já armada para convencê-lo de que o trono não tem dono. Mas o trono tem dono. E se chama Eduardo Siqueira Campos, eleito pelo voto popular — essa coisa ainda teimosa, que mesmo combalida, carrega legitimidade.

Carlos, dizem, é um homem de fé. Rezou com Eduardo, abraçou, orou. Agora, move peças. Troca gente. Muda tudo. Como se o que estivesse em suas mãos fosse herança e não responsabilidade. Como se a interinidade fosse propriedade. Como se o beijo de Judas fosse só um gesto de cortesia no monte das oliveiras.

Numa política marcada por traições discretas, mas fatais, não é raro ver suplentes virando donos, aliados virando algozes, fiéis virando fantasmas. O Tocantins conhece bem esse roteiro. Trocam-se secretários como se fossem fardos. Substituem-se servidores de confiança por gente sem lastro, apenas porque agora “quem manda sou eu”.

Mas política é caprichosa. Ama a traição enquanto ela lhe serve, mas detesta o traidor quando ele começa a atrapalhar. Brizola sabia disso. Talvez por ter visto muito Judas que beijou, muito Napoleão que virou imperador por três dias e depois voltou para o exílio. É por isso que a história não tem pena dos que confundem ocasião com destino.

A Carlos Velozo está dada uma rara oportunidade: ou sairá desta crise como um homem de palavra — o que segurou a onda e respeitou a liturgia — ou como mais um nome que se perdeu no jogo dos espelhos. O Tocantins não precisa de outro prefeito biônico. Precisa de gente que saiba esperar sua hora. E, sobretudo, que saiba que nem toda cadeira ocupada é cadeira conquistada.

Afinal, a política — essa velha senhora ingrata — já provou mil vezes que pode até dar os braços ao traidor. Mas no fim, nunca o leva para dançar.

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