Há algo de simbólico e de profundamente político no retorno de Sandoval Cardoso à cena tocantinense. Não apenas pelo gesto de pedir bênção à dona Neuza, uma das pioneiras de Colinas do Tocantins, mas pelo que esse gesto representa: o reencontro de um homem público com suas raízes, com o chão que lhe deu nome e destino.
Após 11 anos de silêncio, Sandoval volta a caminhar pelas mesmas ruas onde começou, a conversar com antigos aliados, a visitar lideranças e a reacender vínculos que pareciam adormecidos. E faz isso com o cuidado de quem conhece a política não como espetáculo, mas como presença, uma arte que se sustenta no olhar, no aperto de mão e na palavra dada.
Sua volta ocorre num momento em que o médio-norte tocantinense, historicamente berço de grandes lideranças, sofre com o esvaziamento político. De Colinas nasceu Siqueira Campos, o fundador do Tocantins, que iniciou ali sua trajetória como vereador e primeiro presidente da Câmara Municipal, um símbolo da força e da vocação política da região.
Hoje, contudo, o cenário é outro. A região carece de representantes de peso na Assembleia Legislativa e, sobretudo, em Brasília. É uma ausência que se faz sentir nas decisões estratégicas do Estado, nos investimentos, na defesa das pautas regionais. Nesse vácuo, o nome de Sandoval surge novamente como ponto de convergência, um elo possível entre o passado de protagonismo e o presente de dispersão.
Para muitos que o acompanharam desde o início da trajetória, o retorno de Sandoval carrega o sentimento de retomada de um projeto interrompido e evoca lembranças de um tempo em que o médio-norte tinha voz e vez nas decisões do Estado. É como se, ao voltar, ele reabrisse uma porta que ficou entreaberta na história política de Colinas e de toda a região.
O vídeo em que Sandoval aparece pedindo bênção à dona Neuza não é apenas um ato religioso ou afetivo é uma metáfora política. Ao buscar a bênção de uma pioneira, ele busca também a legitimidade de quem o viu nascer, crescer e governar. É uma forma de dizer: “Volto não por vaidade, mas por missão.”
E essa missão parece clara. Nos bastidores, Sandoval articula uma pré-candidatura a deputado federal, reposicionando-se como liderança capaz de defender o interior e de reconectar o Tocantins ao seu próprio sentido de origem.
O encontro em sua residência, no 7 de setembro, após a Cavalgada de Colinas, foi o primeiro grande sinal de que o ex-governador não fala mais apenas por si. Estiveram presentes o governador em exercício Laurez Moreira, a senadora Professora Dorinha, os deputados Carlos Gaguim e Alexandre Guimarães, além de outras figuras de expressão estadual.
Não foi uma mera visita de cortesia. Foi um gesto político com peso simbólico, a reafirmação de que Sandoval mantém trânsito entre grupos rivais e ainda desperta respeito nas principais correntes partidárias do Estado.
Sandoval parece compreender que a política tocantinense, desgastada por escândalos e afastamentos, precisa reencontrar figuras que dialoguem com a história e com o povo. Seu retorno, se confirmado nas urnas, pode representar mais do que um simples recomeço pessoal: pode simbolizar a tentativa de reconstruir o elo entre o Tocantins real e o Tocantins institucional, entre o sertanejo e o Estado que dele nasceu.
O tempo dirá se essa volta se consolidará nas urnas ou se ficará apenas na memória afetiva. Mas uma coisa é certa: Colinas volta a pulsar politicamente, e o nome de Sandoval Cardoso, outrora silêncio, volta a ser sussurrado nas rodas, nas varandas e nos bastidores, não como nostalgia, mas como possibilidade.