Vivemos cercados de ruído. Ruído visual, ruído digital, ruído emocional. A cultura do “conte alguma coisa”, “poste alguma coisa”, “reaja a alguma coisa” nos empurra para um estado de inquietude permanente. Até o silêncio passou a ser interpretado como descaso, fraqueza ou ausência. Mas talvez, justamente agora, silenciar seja o maior ato de lucidez.
Num tempo em que todos falam ao mesmo tempo e poucos escutam, recusar-se a participar da balbúrdia é, em si, um gesto político. Não postar o prato, não comentar a polêmica da vez, não responder à expectativa de estar sempre “ligado”, virou resistência. É uma forma de preservar a integridade mental e, sobretudo, a dignidade da alma.
A modernidade não aceita o vácuo. A ausência virou ameaça. Desconectar-se por escolha pessoal soa ofensivo. Mas há uma beleza grave e necessária no recolhimento. O silêncio é onde os pensamentos criam raízes. É no não dito que amadurece o que realmente importa. Enquanto todos gritam para serem notados, há quem se recolha para não ser corrompido.
As redes sociais, os grupos, os algoritmos, todos gritam “diga algo!”. E, no entanto, talvez seja hora de aprender a dizer: não tenho nada a dizer — e está tudo bem assim.
O silêncio, hoje, é o último território onde ainda somos donos de nós mesmos. E preservar esse território é mais do que um ato de cuidado — é um gesto de rebeldia silenciosa.