Outro dia, sentei com um amigo para uma conversa dessas que não se postam. Nenhuma taça de vinho, nenhum prato com folhas verdes e camarões grelhados. Só dois cafés pretos, o tempo passando e o mundo sendo destrinchado no fio da conversa. E me senti feliz. Simples assim.
Mas ao chegar em casa, rolando o dedo nas redes, me deu a sensação estranha de que aquela tarde não valera nada. Ninguém sorriu pra ela. Ninguém curtiu. Ninguém viu. Não havia praia, não havia trilha sonora, não havia filtro. Aquela felicidade era invisível — e, portanto, quase inválida.
É curioso como fomos nos afastando daquilo que nos satisfaz de verdade. Um pôr do sol visto da varanda já não basta — é preciso que seja no lugar certo, com a roupa certa, com a legenda certa. O silêncio virou suspeito. A solidão, um fracasso. A simplicidade, um erro de cálculo.
Lazer virou dever. Descanso virou prova de status. E a felicidade — essa que já foi leve como brisa — virou um fardo a ser exibido. Há dias em que até ser feliz cansa.
O problema é que, tentando parecer felizes como os outros, esquecemos como era ser felizes como nós mesmos. E no fim, voltamos para casa cheios de fotos, mas vazios de nós.