Correio do Tocantins Publicidade 1200x90

“Caba tá guloso”: diálogos revelam cobrança de propina em fraudes das cestas básicas

Inquérito do STJ detalha esquema milionário no Tocantins com empresas de fachada, servidores e políticos; valores desviados teriam financiado pousada de luxo em Taquaruçu

Redação - Correio do Tocantins
04/09/2025 11h24 - Atualizado há 1 dia
4 Min

Um inquérito conduzido pela Polícia Federal e analisado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) expõe um esquema milionário de desvio de recursos públicos destinados à compra de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19 no Tocantins. O documento, relatado pelo ministro Mauro Campbell Marques, descreve a atuação de políticos, servidores e empresários, e aponta o envolvimento direto do governador Wanderlei Barbosa e da primeira-dama, Karynne Sotero.

Como funcionava o esquema

As investigações revelam que a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (SETAS) foi o centro da operação. Por influência política do então vice-governador, a pasta concentrou a maior parte dos recursos da pandemia. Emendas parlamentares também eram redirecionadas para reforçar o caixa do esquema.

O inquérito descreve a ação de quatro núcleos articulados:

  • Político – liderado por Wanderlei Barbosa, Karynne Sotero e deputados estaduais que destinavam emendas.

  • Servidores – responsáveis por fraudar licitações, direcionar contratos e atestar recebimentos falsos.

  • Empresarial – composto por empresas de fachada, muitas em nome de “laranjas” beneficiários do auxílio emergencial.

  • Financeiro – operadores que movimentavam grandes somas em espécie e realizavam depósitos fracionados em favor do governador.

O resultado, segundo a Polícia Federal, eram “cestas básicas de papel”: contratos firmados em valores milionários, mas com entregas parciais ou inexistentes.

Provas financeiras

O inquérito rastreou transferências e saques que sustentam as suspeitas. A empresa MC Comércio de Alimentos EIRELI sozinha repassou R$ 521 mil a Paulo César Lustosa Limeira, operador do esquema e ex-marido da primeira-dama.

No total, Lustosa recebeu R$ 1,35 milhão entre 2020 e 2022, realizando saques de R$ 665 mil em espécie. Para os investigadores, a manobra tinha o claro objetivo de ocultar a origem ilícita do dinheiro.

Parte desses valores, afirma a PF, foi canalizada para a construção da Pousada Pedra Canga, em Taquaruçu, registrada em nome de Rérison Leite, filho do governador. Conversas interceptadas mostram familiares e assessores tratando da ocultação da propriedade para disfarçar o vínculo direto com Wanderlei Barbosa.

Diálogos que reforçam as acusações

As mensagens interceptadas pela Polícia Federal oferecem um retrato do funcionamento do esquema:

Propina como rotina

Após a prorrogação do estado de calamidade, Paulo César Lustosa ironiza o apetite por propina atribuído ao governador:

  • PC Lustosa: “Caba tá guloso, rsrsrs. Dinheiro.”

  • Wilton (irmão): “kkkk”.

Licitações combinadas

Em outro diálogo, Paulo César define com empresários quem venceria uma concorrência para fornecimento de cestas:

  • PC Lustosa: “Manda as 3 propostas. Quem ganha?”

  • Paulão (Mari Alimentos): “Quem ganha?”

  • PC Lustosa: “Portinari. Pode ser.”

As mensagens confirmam que o processo licitatório era apenas de fachada.

Preocupação com investigações

Quando operações policiais começaram a mirar o fornecimento de cestas, Paulo César demonstrou apreensão:

  • PC Lustosa: “Olha isso.” [encaminhando notícia sobre operação policial]

  • PC Lustosa: “Esses caras vão tudo rodar aí, esse Joseph, esses malandros aí. Mas beleza, graças a Deus ce tá fora.”

Intermediação política

Mensagens ainda mostram que a primeira-dama, Karynne Sotero, era diretamente associada ao Instituto IDEGESESC, usado para receber emendas parlamentares:

  • PC Lustosa: “Aproximação com Karynne. Isso aí é armação. Cláudia [deputada estadual] não é boba.”

O diálogo faz referência a parlamentares que buscavam se aproximar do governo destinando recursos ao instituto ligado à esposa do governador.

A avaliação do STJ

O relator do caso, ministro Mauro Campbell Marques, destacou a “contemporaneidade manifesta” dos atos, afirmando que os crimes não se limitam ao período da pandemia, mas continuam por meio de contratos ainda vigentes e da lavagem de capitais.

Segundo o ministro, há “fortíssimos indícios de continuidade delitiva”, confirmados por transferências bancárias, apreensões de dinheiro em espécie, documentos falsos e diálogos que mostram a combinação prévia de resultados de licitações.

O inquérito expõe um esquema articulado e milionário, em que recursos destinados a famílias em situação de vulnerabilidade foram desviados para enriquecer políticos e empresários.

As provas reúnem valores rastreados, saques em espécie, contratos simulados e diálogos comprometedores, que apontam para um sistema de corrupção entranhado na máquina pública.

Para o STJ, o caso justifica medidas duras, incluindo o afastamento do governador, devido ao risco de continuidade das práticas ilícitas.


Notícias Relacionadas »
Correio do Tocantins Publicidade 1200x90
event.preventDefault(); }); document.body.oncontextmenu = function(e){ if(window.event) { return (event.returnValue = false) } else { e.preventDefault() } }; window.onmousedown = function(){ if(window.event){ if(event.button == 2 || event.button == 3){ return (event.returnValue = false) } } } } } bloqtx.init();
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp