A corrida pelo Senado no Tocantins, dentro da federação entre União Brasil e Progressistas, já deu sua largada e, antes mesmo de qualquer convenção, já revela fraturas internas, egos inflados e o risco iminente de uma implosão precoce. Ao centro da tormenta, o deputado federal Carlos Gaguim transforma o processo, que deveria ser de composição e maturidade política, em uma espécie de ultimato público: ou o aceitam como candidato, ou ele rompe.
Enquanto a senadora Professora Dorinha, também do União Brasil, tenta imprimir um tom racional ao debate, destacando a necessidade de critérios técnicos, pesquisas qualitativas e diálogo entre os dois partidos da federação, Gaguim parte para o ataque com uma retórica que mistura ameaça velada e desabafo pessoal. “Se for sacaneado, saio do partido”, cravou, numa entrevista ao Gazeta do Cerrado onde listou seu capital eleitoral, reclamou de recuos passados e declarou que tocará sua candidatura “até sozinho”, se preciso.
A fala não é apenas intempestiva, é um sinal perigoso de descontrole interno. Ao invocar acordos firmados com a direção nacional do União Brasil e dizer que não recuará “só se Deus não quiser”, Gaguim escancara uma postura que desrespeita as dinâmicas da federação recém-formada. O que deveria ser um processo de construção coletiva, com base em dados, viabilidade e consenso, torna-se refém de sua própria vontade pessoal.
Mais grave ainda é o tom quase revanchista que adota. Ao invés de afirmar sua pré-candidatura com serenidade e confiança, Gaguim prefere o caminho da ameaça: sugere rompimento, cita partidos que o cortejam, alude a uma espécie de “dívida histórica” por apoios prestados e transforma a política em palco de contas a acertar. O discurso contrasta com o necessário espírito de unidade que a Federação, uma aliança complexa por si só, exige para se firmar como projeto viável no Tocantins.
Enquanto isso, Dorinha se esforça para conter os danos. Em entrevista, reitera que não manda na federação, que União Brasil e PP têm o mesmo peso, e que critérios serão definidos de forma transparente. A senadora tenta preservar a institucionalidade e evitar que o debate seja sequestrado por vaidades individuais, ainda que, nas entrelinhas, deixe claro seu alinhamento natural com o correligionário.
Do outro lado desse jogo de forças, Vicentinho Júnior adota uma postura diametralmente oposta. Em vez do confronto, escolheu o silêncio estratégico. Enquanto Gaguim recorre à tática de cercar o processo com pressão e ameaças de rompimento, Vicentinho amplia sua rede política com serenidade e método. A comparação não favorece o deputado do União Brasil: onde um vê urgência e imposição, o outro enxerga tempo e construção.
A retórica agressiva de Gaguim, portanto, é um sinal de alerta. Ela tensiona o pacto federativo e coloca em risco o próprio projeto coletivo. Ao insistir na lógica do “sou candidato com ou sem o partido”, antecipa um possível racha e sabota o esforço de articulação que Dorinha tenta construir.
No pano de fundo, nomes como o do senador Eduardo Gomes e do governador Wanderlei Barbosa aparecem como possíveis parceiros ou contrapontos, embora Wanderlei tenha reiterado que não será candidato ao Senado. Gaguim, contudo, insiste em citar ambos, como quem tenta embaralhar o jogo para manter-se no centro das atenções.
Ao final, o que deveria ser um debate sobre projetos para o Tocantins se reduz, nas falas de Gaguim, a um monólogo sobre si mesmo. O desafio da federação, agora, é transformar essa babel em mesa de diálogo, antes que a ambição de um só custe a viabilidade de muitos. A eleição de 2026 já começou, e o modo como se enfrentará essa primeira crise revelará muito mais do que os nomes na chapa: revelará a maturidade, ou a falência precoce, de uma aliança que ainda tenta nascer.