Há um crime acontecendo diante de milhões de olhos, todos os dias, e o pior é que muitos fingem não ver. Trata-se da adultização e sexualização de crianças nas redes sociais, uma prática covarde, repugnante e que, apesar de chocar, continua a ser alimentada por curtidas, compartilhamentos e monetização.
Não há inocência em colocar uma criança para dançar com pouca roupa diante de câmeras, em ambientes adultos, cercada por olhares que não deveriam existir. Não é “fofo”, não é “conteúdo divertido”: é exposição indevida, é erotização precoce e, em muitos casos, a porta de entrada para abusos. A cada clique, a cada visualização, alguém lucra, e uma infância é arrancada.
O influenciador Felca, em seu desabafo, expõe uma verdade incômoda: a infância é curta, e o mundo adulto dura o resto da vida. Antecipar essa transição é condenar meninos e meninas a carregar traumas para sempre. Não se trata apenas de dano emocional; trata-se de um risco real, palpável e mensurável. Estatísticas mostram que uma em cada oito crianças sofrerá abuso sexual antes dos 18 anos. Quando a internet transforma inocência em vitrine, o perigo se multiplica.
A culpa não é apenas de quem grava. É também de quem consome, engaja e dá palco. É de pais e responsáveis que permitem, e das plataformas que fecham os olhos enquanto o dinheiro entra. A impunidade é combustível. Enquanto houver lucro, haverá exploração.
O combate exige medidas duras: endurecimento das leis, fiscalização real das redes, bloqueio e exclusão definitiva de perfis que explorem crianças. É preciso responsabilizar judicialmente quem produz e quem permite. Mas também é preciso agir individualmente: não assistir, não compartilhar, denunciar sempre.
Como lembrou Martin Luther King, o que mais preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons. E, neste caso, cada silêncio é um voto pela continuação dessa barbárie. A sociedade que não protege suas crianças está condenando seu próprio futuro.
É hora de romper esse ciclo sujo. A infância não é palco, não é vitrine e não é mercadoria. Quem a trata como tal não merece audiência, merece julgamento.