Em qualquer democracia, a ética não se sustenta apenas nas leis escritas, mas também no comportamento das pessoas que ocupam posições de liderança. Escândalos e crises políticas, infelizmente, não são novidade. O que mais chama a atenção, porém, não é apenas o ato irregular em si, mas o silêncio que muitas vezes o acompanha. O silêncio dos aliados, das instituições e até da sociedade.
Esse silêncio tem um preço. Quando autoridades deixam de reagir diante do erro, sinalizam que a ética pode ser relativizada. Quando instituições se calam, passam a impressão de que a conveniência é mais forte que o compromisso com o interesse público. Quando cidadãos preferem não se posicionar, contribuem, ainda que involuntariamente, para a normalização do inaceitável.
A omissão, nesse contexto, é tão nociva quanto a própria falha de integridade. Porque ela legitima, fortalece e perpetua práticas que corroem a confiança da sociedade nas instituições. É como se o erro ético encontrasse no silêncio o terreno fértil para crescer.
Mas é preciso reconhecer que o silêncio não surge apenas por cumplicidade. Muitas vezes, ele nasce do medo, da insegurança ou da crença de que “nada vai mudar”. Ainda assim, por mais compreensíveis que sejam essas razões, o efeito prático é o mesmo: a democracia enfraquece, e a esperança coletiva se perde.
Romper esse ciclo exige coragem. A coragem de dizer não quando todos dizem sim; de questionar quando a maioria prefere a conveniência; de lembrar que ética não é enfeite de discurso, mas fundamento de credibilidade. Exige também maturidade institucional: órgãos de controle, parlamentos e sociedade civil precisam se posicionar com firmeza, sempre respeitando a legalidade, mas sem se esconder atrás dela para justificar a inação.
O preço do silêncio é alto demais. Ele se traduz em políticas públicas interrompidas, em recursos desperdiçados, em famílias que sofrem as consequências da má gestão. Por isso, o verdadeiro compromisso ético é não se calar. É garantir que a voz da integridade seja mais forte que o sussurro da conveniência.
No fim, a lição é clara: quando o poder cala a ética, quem paga a conta é sempre o povo. E esse é um preço que nenhuma democracia pode se dar ao luxo de sustentar por muito tempo.